Depois de algumas, várias, horas de voo e uma conexão
em Toronto, eu finalmente havia chegado no aeroporto de Vancouver (YVR). Com a mochila nas costas, uma angústia
apertava o meu coração mais do que as várias peças de roupa que eu usava com
medo do frio que iria enfrentar. Eu
estava me sentindo perdida, um peixe fora d’agua, não sabia quais eram os
próximos passos, e, na verdade, estava aflita de ter que enfrentá-los. Segui o fluxo. No avião mesmo eu já tinha conversado com
alguns brasileiros que estavam na mesma situação, e sendo assim, ao desembarcar
fui seguindo as vozes que identificavam a sonoridade, que me acalmava os ânimos,
do bom e velho português.
Logo o primeiro desafio surgiu, onde estão minhas
malas? Em qual dessas esteiras eles
colocaram? Meu deus, como eu falo meu nome é Camila em inglês? F E R R O U! Uma
menina escandalosa estava na mesma situação, mas com mais “ samba – lelê” já
foi gritando: “ Ô MOÇU, AI LOSTI MAI BÉGUI, ME AJUDA?” E para ser sincera, de
alguma forma o atendente conseguiu compreender, não sei que tipo de curso eles
são submetidos para conseguir decifrar tantos sotaques, e embrometions, mas a
danada achou a mala dela, e eu fui no embalo.
Minha irmã de sete anos fala que é dela. Foto: Camila Trama |
Minha amiga, que mora lá, foi me buscar no aeroporto.
Senti uma felicidade muito grande quando eu a vi. Estava segura. Ela me entregou um alce de
pelúcia vestindo uma roupinha com a bandeira do Canadá, uma graça. Saindo do
aeroporto um frio cortante me deu as boas vindas. Sim, definitivamente estou no Canadá.
Entramos no carro e eu fui analisando tudo, como se nunca enxergará antes. As
cores não eram as mesmas, os detalhes, o sentimento, principalmente eu. Eu
entendi naquele momento minha frivolidade diante da imensidão de possibilidades
do mundo, e isso não iria mais voltar,
as portas se abriram!
A janelinha ali de cima era o meu quarto! Foto: Camila Trama |
Depois de ficar na casa dela, tomar um bom banho, e
comer uma comidinha, fui para a casa na qual eu passaria o resto da experiência. Eu já tinha procurado a foto da casa no
Google Maps, mas por muito azar, na hora que tiraram a foto, um caminhão de,
sei lá o que, estava estacionado bem na frente da casa, cobrindo -a por
completo. TÁ SERTO! A família que me
esperava era das Filipinas, um arquipélago na região asiática, e que moravam no
Canadá já fazia vinte anos. Foram super
calorosos e apesar da vergonha, já conseguia ver aquele lugar como meu novo
lar. O êxtase de ver coisas novas era viciante.
Entrei no meu quarto e minha caminha estava ali, arrumadinha. Que
maravilha!! Conversei com meu namorado antes de dormir, e não conseguir conter
as lágrimas, vê-lo ali, sorrindo para mim, e ao mesmo tempo tão longe, me
cortava o coração. Beijei a tela fria do computador que em nada lembrava a boca
macia dele. De todo modo estava contente, estava lá. Dormi cedo, no dia
seguinte teria meu primeiro dia de aula.
Lugar que fui pouco antes de me perder. Foto: Camila Trama |
Acordei com uma animação de outro mundo, nunca tinha
acordado tão feliz para ir à aula como naquele dia. No dia anterior tanto o pai
da minha amiga quanto minha “mãe adotiva” tinham me explicado como ir e voltar
da escola. Eu subestimei minha
capacidade de me perder. Após a aula, que foi um dia bem descontraído para dar
as saudações aos novos alunos e comer uma pizza deliciosa de pepperoni com toda
a galera, fui fazer o percurso de volta para a casa toda linda e charmosa me
achando a rainha do camarote. Eis que, depois de entrar no ônibus, noto que o
caminho estava um pouco diferente do que eu havia feito anteriormente. Mas
continuei lá, sentada e sorridente. Não,
não, não aquele caminho não estava certo.
Apertei o botão e desci do ônibus,
voltei tudo de novo a pé até o ponto da onde eu tinha partido, e o frio
batendo. Dois jovens com roupas no estilo gótico começaram a se encarar na rua,
e de repente voaram um em cima do outro e se socavam alucinadamente. Gente, que
isso? Cadê a segurança de que falaram tanto? Eu congelei, e parecia que estava
dentro de um filme. Uma viatura veio em alta velocidade e logo dois policias
cercaram os jovens. YOU HAVE THE RIGHT TO REMAIN SILENT! Nem sei se eles
falaram isso, mas eu imaginei. Mentira, na verdade, eu ainda tava nas lições do
verb to be! Depois de todo esse bafafá e quase considerando virar uma andarilha
eu resolvi ligar, chorando, para o meu namorado. Glorificado seja o Nextel! Ele
com todo amor do mundo virou meu GPS personalizado, me indicando o caminho ao
som dos meus soluços. O dia estava chuvoso, e com muita neblina. Ao chegar em
casa ainda tive que desenrolar um inglês macarrônico para explicar o por quê de
ter chego tão tarde... Oh Canada.
Flores que agregam no modo "flor "da câmera digital |
Só um plus: foram incontáveis as vezes que eu escutei a piadinha da Luiza, que está no Canadá...
Não, eu não trombei com ela.
Não, eu não trombei com ela.
Por: Camila Trama
De: São Paulo - SP
Email: camila.trama@hotmail.com