4 de março de 2014

NSFMPCA #31 - Quem vem pro Lolla (Parte I)




Black Holes and Revelations_Muse
Data de Lançamento:
 3 de Julho de 2006
Gravadora:
Helium 3 / Warner Bros.
Nota: 8,5/10

              

Nesse mês de março vamos usar as duas colunas de música para falar das bandas que vem ao Lollapalooza 2014 – o festival hipster que reúne, em um só lugar, a maior quantidade de garotas ruivas, coturnos Doc Martens e bandas que nem você, nem sua mãe, nem ninguém conhece – mas que todos são fãs incondicionais.
Por exemplo: na edição deste ano, além dos destaques, temos gente como Illya Kuriaki and the Valderramas (?), ou então o legendário FTAMPA (?????) ou então – plmdds esse não – CONE CREW DIRETORIA. Não sei se é o caso de “chamar os mulekes” ali da região de Interlagos, onde será o show. Mas eles não são tão bem-vindos assim no meio da hipsterama toda. 
De volta ao assunto, para evitar polêmicas, falaremos apenas dos principais: no primeiro dia, os britânicos do Muse ocuparão o palco principal. E, entre os seis discos deles, um deles merecia estar na prateleira de todos os fãs de rock. E é sobre ele que a gente vai descer a lenha agora.

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Eu tenho um passatempo muito divertido (ao menos pra mim) de comparar músicos com escritores: considero Bruce Springsteen como um escritor russo, cheio de dramas e descrições; o Aerosmith como um daqueles romances baratos para o público feminino; David Bowie com a ironia de um Philip Roth, e assim por diante. E o Muse, com suas letras um tanto paranoicas, só pode lembrar George Orwell, o gênio por detrás de “Revolução dos Bichos” e “1984”.

Talvez essa nunca tenha sido a intenção da banda – um trio poderoso formado no litoral sul da Inglaterra em 1994. Os três esforçados rapazes, Matt Bellamy e...os outros dois, levaram cinco anos para conseguir lançar o disco de estreia, Showbiz, que era bom mas teve propaganda mínima. Mas o segundo álbum da banda, o bastante elétrico Origin of Symmetry, mostrou que o poderio dos três era muito, mas muito maior do que as bandas da mesma época. Além do mais, eles conseguiam  se destacar com uma melodia incomum à época: sim, eles faziam rock progressivo com peças como Plug In Baby, New Born e em Feeling Good, um cover de uma canção dos anos 60.

Pois em 2006, depois de três anos sem lançar nada (o último tinha sido o disco Absolution, que lançou o nome da banda para o mundo), o trio voltou com uma abordagem totalmente diferente. Black Holes... não é um disco conceitual, mas suas letras correm para o lado oposto da música: em 2006, relembremos, a moda era cortar os pulsos com canções de amor derretidas e franjas e all stars riscados à caneta (e eu sei que você já teve o seu).

E então aparece uma banda cantando sobre: Corrupção (a abertura apocalíptica de Take a Bow), invasão alienígena (Exo-Politics), ateísmo e outros temas. Pra piorar, a capa é de autoria do britânico Sotmr Thorgeson, o mesmo responsável pelas capas dos discos do Pink Floyd. Nela, quatro homens estão numa mesa, com ternos estranhos e cavalos andando no tampo, provavelmente em Marte (já que a Terra está ao fundo). Provavelmente banda e autor da capa não batem bem da cabeça.

E é essa loucura, de quase ir na contramão da indústria musical, que elevou o Muse, de banda de apoio em festivais, à estrela de si mesma. O virtuosismo e as constantes misturas de instrumentos de corda e metal atraíram não só a atenção dos jovens revolts, mas também da crítica especializada.  A turnê que veio em seguida rendeu à banda o primeiro DVD, gravado em três noites lotadas no novo estádio de Wembley, em Londres. O nome? H.A.A.R.P. – o nome de um projeto ultra secreto do governo americano.

Grande parte do mérito de Black Holes... cabe à Matt Bellamy, o cabeça do projeto. A revista britânica Total Guitar tascou em 2010 o título de “Jimi Hendrix de sua década” ao magrelo. E não é exagero: sua habilidade musical espanta em qualquer direção – ele toca piano, tem um vocal de tenor com uma extensão impressionante (vide a canção de 2009 Dead Star), é capaz de dar vida à composições impressionantes e uma habilidade na guitarra que o coloca entre os melhores da década de 2000. O solo de Invincible, uma das melhores do álbum, cabe fácil entre os 100 grandes solos de todos os tempos.


Mas nem ela consegue ser a melhor do disco. Isso fica difícil quando a faixa final é nada menos que Knights of Cydonia. Do ponto de vista estrutural, ela é bem estranha – seis minutos e apenas dois versos – mas o grau de dificuldade a que estão expostos os instrumentos (guitarra, baixo, voz e um ocasional trompete) a torna uma das composições mais espetaculares de nossa era. Sem brincadeira. Não à toa os intrincados solos da música acabaram por ir parar no jogo Guitar Hero III, responsável pelo primeiro contato de muita gente com a banda.

E eles vem ao Brasil para dois shows totalmente diferentes do que a banda vem vivendo. A turnê do disco mais recente, o pouco convincente The 2nd Law, lotou arenas no mundo todo e tem o palco mais megalômano desde o 360 do U2. E por aqui o trio revive, no Lollapalooza, os shows de festivais a que estão acostumados desde o começo da carreira. Mas o mais interessante é o show paralelo que farão no Grand Metrópole, uma casa no centro de São Paulo: como uma banda que não toca para menos de 80 mil pessoas há anos vai reagir num show para pouco mais de 2000 cidadãos? Como é assistir um show intimista de uma banda feita para os melhores espetáculos em estádios?

Por isso devemos manter um olho no peixe e outro no gato. Com vinte anos de carreira, o Muse entra no hall de bandas como o Cream e o Rush, que são trios que soam como bandas bem maiores. E há quem critique a mistura de “rock moderno” e das guitarras berrantes de Matt Bellamy com o piano e melodias agudas. Bata lembrar que, nos anos 1970, uma certa banda recebeu as mesmas críticas. E seu líder, um tal Freddie Mercury, nada fez além de não dar ouvidos. Que o Muse se inspire neles.


Muse


Sideshows Lollapalooza apresenta: Muse

Dia 3 de Abril (quinta)

Grand Metrópole (Avenida São Luís, 187 - República, São Paulo – SP)

Ingressos: R$ 125 (meia) e R$ 250 (inteira), disponível no site da Tickets for Fun




Lollapalooza dia 1- Palco Principal

Dia 5 de Abril (sábado)
Autódromo de Interlagos (Av. Sen. Teotônio Vilela, 261, São Paulo – SP)
Ingressos: de R$145 (meia para um dia) até R$540 (inteira para os dois dias do festival), disponível no site da Tickets for Fun





Por: Guilherme Mendes
De: Carapicuíba - SP
Email: guilherme@revistafriday.com.br

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