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Confira algumas mudanças que o google+ realizou para agradar os usuários.

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CINEMA: Sassy Pants

Rebeldia, insatisfação e as paixões fazem parte do cotidiano de todos os adolescentes, confira a resenha do filme Sassy Pants.

VITRINE: O universo feminino de Isadora Almeida

Inspirada por ilustrações de moda, estamparia e coisas que vê por aí, conheça o trabalho da ilustradora mineira Isadora Almeida.

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4 de março de 2014

NSFMPCA #31 - Quem vem pro Lolla (Parte I)




Black Holes and Revelations_Muse
Data de Lançamento:
 3 de Julho de 2006
Gravadora:
Helium 3 / Warner Bros.
Nota: 8,5/10

              

Nesse mês de março vamos usar as duas colunas de música para falar das bandas que vem ao Lollapalooza 2014 – o festival hipster que reúne, em um só lugar, a maior quantidade de garotas ruivas, coturnos Doc Martens e bandas que nem você, nem sua mãe, nem ninguém conhece – mas que todos são fãs incondicionais.
Por exemplo: na edição deste ano, além dos destaques, temos gente como Illya Kuriaki and the Valderramas (?), ou então o legendário FTAMPA (?????) ou então – plmdds esse não – CONE CREW DIRETORIA. Não sei se é o caso de “chamar os mulekes” ali da região de Interlagos, onde será o show. Mas eles não são tão bem-vindos assim no meio da hipsterama toda. 
De volta ao assunto, para evitar polêmicas, falaremos apenas dos principais: no primeiro dia, os britânicos do Muse ocuparão o palco principal. E, entre os seis discos deles, um deles merecia estar na prateleira de todos os fãs de rock. E é sobre ele que a gente vai descer a lenha agora.

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Eu tenho um passatempo muito divertido (ao menos pra mim) de comparar músicos com escritores: considero Bruce Springsteen como um escritor russo, cheio de dramas e descrições; o Aerosmith como um daqueles romances baratos para o público feminino; David Bowie com a ironia de um Philip Roth, e assim por diante. E o Muse, com suas letras um tanto paranoicas, só pode lembrar George Orwell, o gênio por detrás de “Revolução dos Bichos” e “1984”.

Talvez essa nunca tenha sido a intenção da banda – um trio poderoso formado no litoral sul da Inglaterra em 1994. Os três esforçados rapazes, Matt Bellamy e...os outros dois, levaram cinco anos para conseguir lançar o disco de estreia, Showbiz, que era bom mas teve propaganda mínima. Mas o segundo álbum da banda, o bastante elétrico Origin of Symmetry, mostrou que o poderio dos três era muito, mas muito maior do que as bandas da mesma época. Além do mais, eles conseguiam  se destacar com uma melodia incomum à época: sim, eles faziam rock progressivo com peças como Plug In Baby, New Born e em Feeling Good, um cover de uma canção dos anos 60.

Pois em 2006, depois de três anos sem lançar nada (o último tinha sido o disco Absolution, que lançou o nome da banda para o mundo), o trio voltou com uma abordagem totalmente diferente. Black Holes... não é um disco conceitual, mas suas letras correm para o lado oposto da música: em 2006, relembremos, a moda era cortar os pulsos com canções de amor derretidas e franjas e all stars riscados à caneta (e eu sei que você já teve o seu).

E então aparece uma banda cantando sobre: Corrupção (a abertura apocalíptica de Take a Bow), invasão alienígena (Exo-Politics), ateísmo e outros temas. Pra piorar, a capa é de autoria do britânico Sotmr Thorgeson, o mesmo responsável pelas capas dos discos do Pink Floyd. Nela, quatro homens estão numa mesa, com ternos estranhos e cavalos andando no tampo, provavelmente em Marte (já que a Terra está ao fundo). Provavelmente banda e autor da capa não batem bem da cabeça.

E é essa loucura, de quase ir na contramão da indústria musical, que elevou o Muse, de banda de apoio em festivais, à estrela de si mesma. O virtuosismo e as constantes misturas de instrumentos de corda e metal atraíram não só a atenção dos jovens revolts, mas também da crítica especializada.  A turnê que veio em seguida rendeu à banda o primeiro DVD, gravado em três noites lotadas no novo estádio de Wembley, em Londres. O nome? H.A.A.R.P. – o nome de um projeto ultra secreto do governo americano.

Grande parte do mérito de Black Holes... cabe à Matt Bellamy, o cabeça do projeto. A revista britânica Total Guitar tascou em 2010 o título de “Jimi Hendrix de sua década” ao magrelo. E não é exagero: sua habilidade musical espanta em qualquer direção – ele toca piano, tem um vocal de tenor com uma extensão impressionante (vide a canção de 2009 Dead Star), é capaz de dar vida à composições impressionantes e uma habilidade na guitarra que o coloca entre os melhores da década de 2000. O solo de Invincible, uma das melhores do álbum, cabe fácil entre os 100 grandes solos de todos os tempos.


Mas nem ela consegue ser a melhor do disco. Isso fica difícil quando a faixa final é nada menos que Knights of Cydonia. Do ponto de vista estrutural, ela é bem estranha – seis minutos e apenas dois versos – mas o grau de dificuldade a que estão expostos os instrumentos (guitarra, baixo, voz e um ocasional trompete) a torna uma das composições mais espetaculares de nossa era. Sem brincadeira. Não à toa os intrincados solos da música acabaram por ir parar no jogo Guitar Hero III, responsável pelo primeiro contato de muita gente com a banda.

E eles vem ao Brasil para dois shows totalmente diferentes do que a banda vem vivendo. A turnê do disco mais recente, o pouco convincente The 2nd Law, lotou arenas no mundo todo e tem o palco mais megalômano desde o 360 do U2. E por aqui o trio revive, no Lollapalooza, os shows de festivais a que estão acostumados desde o começo da carreira. Mas o mais interessante é o show paralelo que farão no Grand Metrópole, uma casa no centro de São Paulo: como uma banda que não toca para menos de 80 mil pessoas há anos vai reagir num show para pouco mais de 2000 cidadãos? Como é assistir um show intimista de uma banda feita para os melhores espetáculos em estádios?

Por isso devemos manter um olho no peixe e outro no gato. Com vinte anos de carreira, o Muse entra no hall de bandas como o Cream e o Rush, que são trios que soam como bandas bem maiores. E há quem critique a mistura de “rock moderno” e das guitarras berrantes de Matt Bellamy com o piano e melodias agudas. Bata lembrar que, nos anos 1970, uma certa banda recebeu as mesmas críticas. E seu líder, um tal Freddie Mercury, nada fez além de não dar ouvidos. Que o Muse se inspire neles.


Muse


Sideshows Lollapalooza apresenta: Muse

Dia 3 de Abril (quinta)

Grand Metrópole (Avenida São Luís, 187 - República, São Paulo – SP)

Ingressos: R$ 125 (meia) e R$ 250 (inteira), disponível no site da Tickets for Fun




Lollapalooza dia 1- Palco Principal

Dia 5 de Abril (sábado)
Autódromo de Interlagos (Av. Sen. Teotônio Vilela, 261, São Paulo – SP)
Ingressos: de R$145 (meia para um dia) até R$540 (inteira para os dois dias do festival), disponível no site da Tickets for Fun





Por: Guilherme Mendes
De: Carapicuíba - SP
Email: guilherme@revistafriday.com.br

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10 de dezembro de 2013

Não se fazem mais passados como antigamente #25 - Ao vivo o negócio é outro

Domingo, seis da manhã. Essa coluna começa a ser escrita essa hora, sob um sol incrível que, por questões de bom senso, não foi para o Instagram. Começa rápido, muitos toques por minuto – essa introdução foi em meio minuto ou menos. Mas começa sem assunto. Então eis que, ligando a TV em um desses canais da Cultura, qual não é a surpresa que, na mesma hora que Padre Marcelo canta para seus cinquenta, sessenta mil fieis, aparece o The Who destruindo seus instrumentos em My Generation?
                Vamos falar disso então. Ao que parece, quem sabe faz ao vivo.

*

                Então, em meia hora, a coluna está pronta. Os discos essenciais ao vivo estão separados. Pra quem me chama de conservador ou chato na hora de falar de música, digo que ouvi vossas reclamações e, entre os essenciais, tem de tudo: gente que você pode ver ao vivo, gente que você pode ver em DVD (pois já morreu) e gente que você pode até tentar imitar em casa. Afinal de contas, mais do que deliciosos, são inspiradores. Vamos lá:


           


  Alchemy, do Dire Straits






                Antes daquele clipe inovador de Money For Nothing; antes de serem as estrelas a lotar o estádio de Wembley treze noites: antes de tudo isso, os caras do Dire Straits eram rapazes do subúrbio, pobres (o nome da banda é uma gíria para estar em “falência”) e que tocavam em casas pequenas, sem fazer muito barulho para que as pessoas conversassem. Mas o sucesso veio, e eles precisaram tocar em casas maiores. E quando esse dia chegou (dias: 22 e 23 de Julho de 1983), o resultado foi aterrador.
                A sonoridade é espetacular. O disco/VHS com o show mostra uma banda que é esforçada, que tem habilidade em certos momentos mas que, por mais que se esforce, não tira o foco das atenções para Mark Knopfler, “O” vocalista, guitarrista, compositor e chefe do circo. Estrelismo? Talvez, mas o cara realmente é muito bom.
                O que ouvir: Once upon a time in the West, Tunnel of Love e Sultans of Swing, que é esse orgasmo de guitarra abaixo ou, se você tiver tempo, o show todo. Duas vezes.

           

                Zoo TV, do U2
                Eu era fã dos caras com 12 anos. Era março de 2006 e, quando houve aquele frisson pela vinda deles ao Brasil, eu comprei o disco mais recente à época (How to dismanle an atomic bomb) e comecei a prestar atenção na produção deles. Porém nada, absolutamente nada, me hipnotizou mais do que o DVD com o show da turnê Zoo TV, realizado em 1993, na cidade de Sydney.
                Há quem fale na turnê do “360”, que foi megalômano, que era transcendental, mas nem ela consegue se comparar à primeira megaturnê da banda – e, consequentemente, da história. Pois naquela época, até mesmo Bono Vox não era um bom rapaz (fumava, bebia e tudo o que um rockstar faz).  Além da superprodução, o caráter de “crítica à era moderna” dava o tom.
O palco era decorado com antenas; gigantescos telões reproduziam o que se passava na TV (no show do DVD a programação é a da TV australiana, e Bono fica zapeando os canais, pra lá e pra cá). Ele encarna o demônio McPhisto e liga, em algum momento, para a um número da região, simplesmente para falar com alguém que lhe dê ouvidos – um diabo deprimido. Enfim, tudo o que jamais houve em cima do palco veio tudo de uma vez para um show da banda irlandesa. A turnê seguinte, Popmart, foi ainda maior, ainda mais gigante, mas a música...
                O que ouvir: Mysterious Ways, Even Better Than The Real Thing ou, se você tiver tempo, o show todo.

       

             

            
P*U*L*S*E, do Pink Floyd.






A Hammersmith Apollo, uma casa de espetáculos em Londres, é um dos solos mais sagrados para o rock. Ali o Dire Straits gravou o Alchemy e, em 1994, o Pink Floyd fazia um de seus últimos shows na face da terra, antes do vocalista e líder da banda, David Gilmour, dizer chega (e deixar milhões de corações em pedaços).
                A turnê que promoveu o disco de adeus da banda, TheDivision Bell, era tudo menos discreta: luzes, projeções, e um inspiradíssimo grupo (que além dos quatro membros principais, contava com coro, um segundo guitarrista, baterista e tecladista). Nessas 2h24 de show, o principal destaque é a execução do principal álbum da banda na íntegra: as dez faixas do Dark Side of the Moon ao vivo são feitas sob medida para arrepiar pelos de braços e pernas (como já dissemos pra vocês lá no começo dessa coluna).
                O que ouvir: qualquer uma, mas Run Like Hell e a versão de quase dez minutos do hino Confortably Numb, que sempre será, na opinião do reles autor aqui, a versão definitiva e a resposta sobre todas as coisas. Se você tiver tempo, qual é o problema em ver o show todo? Eu mesmo já o fiz, umas trinta ou quarenta vezes mesmo...

           


 One More Car, One More Rider, de Eric Clapton 






                A frase “Clapton is god” foi pixada nos muros de Londres em 1963. Mas só na época de lançamento desse disco/DVD que a coisa realmente fez sentido. Gravado em agosto de 2001 em duas noites no Staples Center, arena em Los Angeles, o show era parte da turnê do disco Reptile. O palco, ao contrário dos caras do U2, não tinha nada. O que dava total atenção ao homem atrás da guitarra.
                O cantor mistura os clássicos que essa coluna já mandou goela abaixo para vocês: Layla, Cocaine, Badge, River of Tears e outras com músicas mais conhecidas e recentes. Outra face do guitarrista é bastante visível: durante os anos 90  ele desenvolveu alguns trabalhos com violão, e o reflexo disso é parte do show ser acústica.
                O que ouvir: Tears in Heaven, Change the World ou, se você tiver tempo, o show todo.
        

                H.A.A.R.P, do Muse      
                Sim, os anos 2000 revelam grandes shows. Inspirados um pouco no Zoo TV (eles também têm antenas no palco) e na iluminação do Pink Floyd, o trio mostra, em uma hora e meia, o que a maioria das bandas de hoje levariam dez, quinze horas em cima do palco fazendo.
                O segredo da coisa toda é, sem dúvida, Matt Bellamy, uma versão moderna e infinitamente inferior ao Freddie Mercury. Mas, muito longe de ser ruim, Bellamy comanda pianos e uma guitarra que, em todos esses anos nessa indústria vital, foi a primeira vez que me aparece. O talento dele – e por que não dos outros dois da banda que eu mal lembro o nome – pode ver visto na íntegra no YouTube, um show que arrepiou mais de 134.287 pessoas no estádio de Wembley nas noites de 16 e 17 de Junho - foi a primeira banda a esgotar os ingressos no novo estádio.
                O que ouvir: Kinghts of Cydonia, Plugin Baby e o cover feroz  de Feeling Good, de Nina Simone ou, se tiver tempo, o show todo. Ou, se tiver dinheiro, vá ao Lolla 2014 e veja-os ao vivo.
          

                Rock em Seine 2007, do Arcade Fire
                Um amigo meu mandou o vídeo desse show via e-mail, desses corporativos quando você tá entediado, com a seguinte descrição “assiste só essa intro e tá bom”. Assisti a tal introdução, coisa de vinte segundos e, nessa semana e meia em que ele me indicou, já vi o show inteiro três vezes.
                Se em 2007 o Arcade era apenas uma banda indie com dois bons álbuns produzidos (Funeral e Neon Bible) e um clipe ou outro na faixa matinal da MTV, a sua atuação em cima do palco parece fazê-los tratar-se de veteranos do pop mundial. Nesse show do tradicional festival francês, os integrantes – treze, quinze, sei lá eu – são ativíssimos, barulhentos e, ao mesmo tempo, bastante melódicos. Se a grande preocupação de uma banda alternativa é parecer alternativa sobre todas as coisas, o que parece pairar sobre o Arcade Fire é apenas o desejo de uma ótima performance.
                O que ouvir: a introdução extremamente zoeira; o show todo e, se sobrar grana, compra também ingresso pro Lolla - o Arcade se apresenta pela primeira vez em oito anos no país, isso no segundo dia do festival.

E, aqui duas semanas, na véspera de Natal, a resenha do galo para vocês. Stay tuned.

Por: Guilherme Mendes
De: Carapicuíba - SP
Email: g.lazaro@outlook.com

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4 de junho de 2013

Não se fazem mais passados como antigamente #13 – Haja LSD!

In The Court of The Crimson King _ King Crimson
Gravadora: Atlantic Records
Lançamento: 10 de Outubro de 1969
Nota: 9.4/10





Lá pelos idos de 1969, quando o planeta estava girando loucamente com a onda hippie –pra alguns mais rápido por causa da guerra no Vietnã,  para outros mais devagar, por causa das drogas mesmo -;quando os Beatles sucumbiam à musa japonesa inspiradora de Luciana Gimenez; quando o Pink Floyd era apenas uma banda de rock mambembe, Elvis Presley era um gordinho  voltando aos palcos em Las Vegas e uns meninos lançaram uma banda humilde de nome Led Zeppelin, uns rapazes britânicos (sempre eles) sentiam que queriam tocar rock, mas não com aquela crueza toda do rock.



Eles eram meio bipolares, por assim dizer: amavam o rock, mas odiavam aquela coisa de “dois acordes e um solinho”; amavam a guitarra, mas achavam que elas podiam render mais. E porque não outros instrumentos, outras texturas? Uma zona organizada era tudo o que o rock precisava pra ir pra frente. É mais ou menos assim que pensava os garotos de Dorset, auto-intitulado “King Crimson”.

***
O King Crimson em 1974 (o terceiro
não é o Renato Russo, mas Robert Fripp).

O que faz as pessoas a ouvir um álbum? Os trabalhos anteriores? A estética? O que as rádios e críticos falam? Um hit-relâmpago no Youtube? Pode ser. Mas nesse caso, todas as convenções caem por terra.
É o álbum de estreia da banda, no fim de 1969, que dá os lucros e o reconhecimento aos membros do KC até hoje, 44 anos depois. Surgindo do nada, eles entraram em um cenário polarizado, ao menos na Inglaterra, tanto pelo rock pop dos Beatles e Rolling Stones como da psicodelia de gente como Jethro Tull e o The Who. Ao invés de entrarem no círculo como meninos comportados e ir se adequando às regras, criaram uma terceira via: o misto, com o rock pesado de guitarras com influências do Jazz e inúmeras batidas. Segundo os estudiosos da área, os líderes da banda, o guitarrista Robert Fripp e o vocalista Greg Lake (O Lake do “Emerson, Lake and Palmer”) queriam que a música representasse o progresso da humanidade, com letras poéticas pensadas. Por isso o nome do recém-criado movimento: rock progressivo.
Se você compra álbuns pela capa, compraria dez discos desse. A ilustração da capa, uma face que grita, é de um quadro pintado por Barry Godber. Dentro, uma lua faz uma pose enigmática. Já sobre o som, há pouco o que dizer. 21st Century Schizoid Man, a abertura do disco, é uma balada lenta, obscura, sobre os males do século XXI (retratadas com alguma realidade, lembremos, ainda em 1969). Eis que, lá pelo meio da música, o rock sério dá lugar a uma estranhíssima Jam de jazz, com trombone, bateria acelerada e tudo que tem direito. Mesmo sendo um hino para quem ama esse tipo de música, ele quase nunca foi tocada ao vivo, e dificilmente conhecida até 2009, quando apareceu como a música final do Guitar Hero 5 - foi por lá que eu conheci a banda. Só quem já jogou sabe o drama que é.
O outro detalhe interessante: o álbum inteiro só tem 5 músicas – comparado que os Beatles chegaram a colocar 17 em um só, é um enxugamento mortal. Mas as canções 3, 4 e 5 são tão diferentes em cada parte que são consideradas várias canções em uma. A incrível Moonchild é dividida em The Dream e The Illusion. E a faixa-título, que fecha o disco, é a minha favorita e que me deixou levemente assustado quando ouvi da primeira vez, tem duas seções: The Return of the Fire Witch e The Dance of the Puppets e cada uma é separada por um solo de flauta, ou uma batida mais calma... mas nada de exaltações. É um disco em grande pare calmo, cerebral e para se ouvir depois de uns drinks, ou um LSD na língua. (Por favor, isso não é apologia. Mas se era assim que eles faziam nos loucos anos 60, quem sou eu...).
Foi assim que eles começaram: acabando. Com toda a divisão que existia no rock entre os “de raiz” e os mais pops, o KC criou espaço para um novo gênero, cultuado até hoje nas rádios de rock mundo afora e com as bandas com fiéis fãs, como o Yes, o Pink Floyd e Genesis. Sem esse álbum estranhíssimo – mas lindo - talvez o heavy metal demoraria um pouco mais pra vir. O rock progressivo seria uma coisa para pubs obscuros. E o rock seria considerado, ainda mais, uma coisa de delinquentes, de jovens transviados.
Agora procure um lugar calmo, aperte o play e feche os olhos. Depois tente contar como foi parar na tal Corte do Rei Escarlate...




Por: Guilherme Mendes
De: Carapicuíba - SP
Email: guilherme@revistafriday.com.br

26 de fevereiro de 2013

Não se fazem mais passados como antigmente #6- O "quarentão"

Dark Side of The Moon
1973
EMI
Nota: 10/10

                 Nunca vou conseguir negar que Pink Floyd é, de longe, minha banda favorita. Também não vou conseguir falar de Dark Side of The Moon sem ser piegas ou parcial. Então não considerem o relato abaixo como sério (se quiserem):


                Nesta sexta, 1º de Março, o Dark Side of The Moon completa 40 anos. Talvez esse seja um fato para apenas os ouvintes da Kiss ficarem sabendo, ou apenas os mais aficionados em rock progressivo, aqueles barbudos loucos, terem uma vaga lembrança da data. Marca não apenas o ressurgimento da banda, mas um marco na indústria fonográfica, nos índices de vendas e na estética dos álbuns.
Esse sou eu sendo imparcial com os
álbuns que escrevo.
                Sobre as faixas, não se tem muito a dizer: dez canções, ligadas umas às outras -característica de um álbum conceitual-, com os vocais do guitarrista da banda, David Gilmour, e outras harmonias brilhantes do engenheiro de som da banda, Alan Parsons. O baixista e “dono” da banda, Roger Waters, canta as duas últimas, Brain Damage e  Eclipse, em um tom quase religioso, quase que como uma oração. Dois dos melhores solos de guitarra da banda saem dali: Money e Time tem batidas estranhas, correm em tempos diferentes, tem, respectivamente, barulho de dinheiro e de despertadores em sua introdução. Até hoje algo vanguardista.
                Outra faixa, The Great Gig In The Sky, que fecha o lado 1, mostra um sentimentalismo ímpar no grupo: Após gravarem a parte instrumental, sugeriram a Clare Torry, uma das backing vocals do grupo, que gravassem um improviso por cima. Sem saber muito o que fazer,  ela começou a gritar. O que sai dali são cinco minutos que muitos fãs da banda dizem lembrar ao sexo – ou a algo tão bom quanto. O álbum é um retrato de várias fases da banda: da psicodelia muito louca de Any Color You Like até a a calma super produzida de Us and Them- talvez a minha favorita entre todas ali dentro.
                Roger Waters, o criador do conceito do álbum, desenvolveu letras sobre amor, tempo, dinheiro, ganância e, óbvio, a morte.  Como disse no livro “Bastidores do Pink Floyd”, o sentido do Lado Escuro da Lua eram as vozes que permeiam  as canções.  Gente como Paul e Linda McCartney responderam às questões feitas por Waters, mas acabaram não entrando na produção final. Sobrou a Gerry O’Driscoll, zelador da Abbey road Studios – sim, o álbum foi gravado lá- a dar grande parte das vozes sombrias, e a fechar o álbum, filosofando gravemente: “There’s no dark side of the moon really, matter of fact she’s all dark” (“Não há lado escuro da lua. Na verdade ela toda é escura).
                Com o álbum pronto, a banda agindo como de costume (diga-se: faltando à entrevistas e criticando a imprensa), o álbum chegou às lojas em 1/3/1973. Os fãs e não-fãs se surpreenderam com a capa, hoje junto com a Sgt. Peppers’ Lonely Heart Club Band a mais famosa e funcional em todos os tempos: nada além de um prisma em fundo preto, refratando uma luz em um arco-íris. A ideia veio do designer da banda, Storm Thorgerson, que queria representar o poder da humanidade. Nada mais simbólico e gracioso.
                Antes do DSoTM, o Pink Floyd era uma banda de festivais underground, com excelentes álbum de música psicodélica. Ao mesmo tempo, os quatro garotos de Cambridge tentavam desvincular-se da imagem do antigo vocalista, Syd Barrett, que não aguentou as pressões da fama (o que viria a ser o mote do álbum seguinte, Wish You Were Here, de 1975). Graças a singles como Money, a banda ganhou status, fama, shows com casas lotadas - e um pequeno complexo de deus, que acabaria agravando as tensões entre os membros, e provocando o fim da formação original uns oito anos depois. 
                As vendas dificilmente encontram paralelo: Mais de 40 milhões de álbuns vendidos, 741 semanas entre os mais vendidos da Billboard – 15 anos! As lendas são muitas: De que a EMI, a gravadora, teve de criar novas fábricas apenas para o disco, de que a banda não precisaria mais trabalhar depois dali (o que é meia verdade), entre muitas outras. Mas a principal, sem dúvida alguma, é a estranhíssima relação do álbum com o filme “O Mágico de Oz”. A banda nega veementemente, mas assista e tire suas próprias conclusões.
                   40 anos depois, a incógnita permanece: seria mesmo o Dark Side of The Moon a obra mais influente da música moderna? A capa, conhecida e visível de longe, é a mais conhecida entre as capas? Não se sabe. Talvez se precise de mais 40 anos para que se descubra o real valor dessa obra.




Por: G.L. Mendes
De: Carapicuíba

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