10 de dezembro de 2013

Não se fazem mais passados como antigamente #25 - Ao vivo o negócio é outro

Domingo, seis da manhã. Essa coluna começa a ser escrita essa hora, sob um sol incrível que, por questões de bom senso, não foi para o Instagram. Começa rápido, muitos toques por minuto – essa introdução foi em meio minuto ou menos. Mas começa sem assunto. Então eis que, ligando a TV em um desses canais da Cultura, qual não é a surpresa que, na mesma hora que Padre Marcelo canta para seus cinquenta, sessenta mil fieis, aparece o The Who destruindo seus instrumentos em My Generation?
                Vamos falar disso então. Ao que parece, quem sabe faz ao vivo.

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                Então, em meia hora, a coluna está pronta. Os discos essenciais ao vivo estão separados. Pra quem me chama de conservador ou chato na hora de falar de música, digo que ouvi vossas reclamações e, entre os essenciais, tem de tudo: gente que você pode ver ao vivo, gente que você pode ver em DVD (pois já morreu) e gente que você pode até tentar imitar em casa. Afinal de contas, mais do que deliciosos, são inspiradores. Vamos lá:


           


  Alchemy, do Dire Straits






                Antes daquele clipe inovador de Money For Nothing; antes de serem as estrelas a lotar o estádio de Wembley treze noites: antes de tudo isso, os caras do Dire Straits eram rapazes do subúrbio, pobres (o nome da banda é uma gíria para estar em “falência”) e que tocavam em casas pequenas, sem fazer muito barulho para que as pessoas conversassem. Mas o sucesso veio, e eles precisaram tocar em casas maiores. E quando esse dia chegou (dias: 22 e 23 de Julho de 1983), o resultado foi aterrador.
                A sonoridade é espetacular. O disco/VHS com o show mostra uma banda que é esforçada, que tem habilidade em certos momentos mas que, por mais que se esforce, não tira o foco das atenções para Mark Knopfler, “O” vocalista, guitarrista, compositor e chefe do circo. Estrelismo? Talvez, mas o cara realmente é muito bom.
                O que ouvir: Once upon a time in the West, Tunnel of Love e Sultans of Swing, que é esse orgasmo de guitarra abaixo ou, se você tiver tempo, o show todo. Duas vezes.

           

                Zoo TV, do U2
                Eu era fã dos caras com 12 anos. Era março de 2006 e, quando houve aquele frisson pela vinda deles ao Brasil, eu comprei o disco mais recente à época (How to dismanle an atomic bomb) e comecei a prestar atenção na produção deles. Porém nada, absolutamente nada, me hipnotizou mais do que o DVD com o show da turnê Zoo TV, realizado em 1993, na cidade de Sydney.
                Há quem fale na turnê do “360”, que foi megalômano, que era transcendental, mas nem ela consegue se comparar à primeira megaturnê da banda – e, consequentemente, da história. Pois naquela época, até mesmo Bono Vox não era um bom rapaz (fumava, bebia e tudo o que um rockstar faz).  Além da superprodução, o caráter de “crítica à era moderna” dava o tom.
O palco era decorado com antenas; gigantescos telões reproduziam o que se passava na TV (no show do DVD a programação é a da TV australiana, e Bono fica zapeando os canais, pra lá e pra cá). Ele encarna o demônio McPhisto e liga, em algum momento, para a um número da região, simplesmente para falar com alguém que lhe dê ouvidos – um diabo deprimido. Enfim, tudo o que jamais houve em cima do palco veio tudo de uma vez para um show da banda irlandesa. A turnê seguinte, Popmart, foi ainda maior, ainda mais gigante, mas a música...
                O que ouvir: Mysterious Ways, Even Better Than The Real Thing ou, se você tiver tempo, o show todo.

       

             

            
P*U*L*S*E, do Pink Floyd.






A Hammersmith Apollo, uma casa de espetáculos em Londres, é um dos solos mais sagrados para o rock. Ali o Dire Straits gravou o Alchemy e, em 1994, o Pink Floyd fazia um de seus últimos shows na face da terra, antes do vocalista e líder da banda, David Gilmour, dizer chega (e deixar milhões de corações em pedaços).
                A turnê que promoveu o disco de adeus da banda, TheDivision Bell, era tudo menos discreta: luzes, projeções, e um inspiradíssimo grupo (que além dos quatro membros principais, contava com coro, um segundo guitarrista, baterista e tecladista). Nessas 2h24 de show, o principal destaque é a execução do principal álbum da banda na íntegra: as dez faixas do Dark Side of the Moon ao vivo são feitas sob medida para arrepiar pelos de braços e pernas (como já dissemos pra vocês lá no começo dessa coluna).
                O que ouvir: qualquer uma, mas Run Like Hell e a versão de quase dez minutos do hino Confortably Numb, que sempre será, na opinião do reles autor aqui, a versão definitiva e a resposta sobre todas as coisas. Se você tiver tempo, qual é o problema em ver o show todo? Eu mesmo já o fiz, umas trinta ou quarenta vezes mesmo...

           


 One More Car, One More Rider, de Eric Clapton 






                A frase “Clapton is god” foi pixada nos muros de Londres em 1963. Mas só na época de lançamento desse disco/DVD que a coisa realmente fez sentido. Gravado em agosto de 2001 em duas noites no Staples Center, arena em Los Angeles, o show era parte da turnê do disco Reptile. O palco, ao contrário dos caras do U2, não tinha nada. O que dava total atenção ao homem atrás da guitarra.
                O cantor mistura os clássicos que essa coluna já mandou goela abaixo para vocês: Layla, Cocaine, Badge, River of Tears e outras com músicas mais conhecidas e recentes. Outra face do guitarrista é bastante visível: durante os anos 90  ele desenvolveu alguns trabalhos com violão, e o reflexo disso é parte do show ser acústica.
                O que ouvir: Tears in Heaven, Change the World ou, se você tiver tempo, o show todo.
        

                H.A.A.R.P, do Muse      
                Sim, os anos 2000 revelam grandes shows. Inspirados um pouco no Zoo TV (eles também têm antenas no palco) e na iluminação do Pink Floyd, o trio mostra, em uma hora e meia, o que a maioria das bandas de hoje levariam dez, quinze horas em cima do palco fazendo.
                O segredo da coisa toda é, sem dúvida, Matt Bellamy, uma versão moderna e infinitamente inferior ao Freddie Mercury. Mas, muito longe de ser ruim, Bellamy comanda pianos e uma guitarra que, em todos esses anos nessa indústria vital, foi a primeira vez que me aparece. O talento dele – e por que não dos outros dois da banda que eu mal lembro o nome – pode ver visto na íntegra no YouTube, um show que arrepiou mais de 134.287 pessoas no estádio de Wembley nas noites de 16 e 17 de Junho - foi a primeira banda a esgotar os ingressos no novo estádio.
                O que ouvir: Kinghts of Cydonia, Plugin Baby e o cover feroz  de Feeling Good, de Nina Simone ou, se tiver tempo, o show todo. Ou, se tiver dinheiro, vá ao Lolla 2014 e veja-os ao vivo.
          

                Rock em Seine 2007, do Arcade Fire
                Um amigo meu mandou o vídeo desse show via e-mail, desses corporativos quando você tá entediado, com a seguinte descrição “assiste só essa intro e tá bom”. Assisti a tal introdução, coisa de vinte segundos e, nessa semana e meia em que ele me indicou, já vi o show inteiro três vezes.
                Se em 2007 o Arcade era apenas uma banda indie com dois bons álbuns produzidos (Funeral e Neon Bible) e um clipe ou outro na faixa matinal da MTV, a sua atuação em cima do palco parece fazê-los tratar-se de veteranos do pop mundial. Nesse show do tradicional festival francês, os integrantes – treze, quinze, sei lá eu – são ativíssimos, barulhentos e, ao mesmo tempo, bastante melódicos. Se a grande preocupação de uma banda alternativa é parecer alternativa sobre todas as coisas, o que parece pairar sobre o Arcade Fire é apenas o desejo de uma ótima performance.
                O que ouvir: a introdução extremamente zoeira; o show todo e, se sobrar grana, compra também ingresso pro Lolla - o Arcade se apresenta pela primeira vez em oito anos no país, isso no segundo dia do festival.

E, aqui duas semanas, na véspera de Natal, a resenha do galo para vocês. Stay tuned.

Por: Guilherme Mendes
De: Carapicuíba - SP
Email: g.lazaro@outlook.com

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