8 de dezembro de 2013

A Saga do Gelo no Brasil

Estamos tão acostumados com alguns elementos básicos da alimentação que nos imaginarmos sem eles é, no mínimo, estranho. Já parou para pensar, por exemplo, que em um país tropical como o Brasil, o gelo é um produto "moderno"?

Em Antologia da Alimentação no Brasil, de Câmara Cascudo, um texto de Hélio Vianna chama a atenção por narrar a introdução do gelo no Rio de Janeiro, durante o Período Regencial.


Em carta à corte de Luís Filipe, em 1834, o diplomata francês Conde Alexis de Saint Priest diz:
"Uma particularidade que quase não merecia ser relatada, mas, entretanto, bem singular, é a Introdução do gelo no Rio de Janeiro. Nunca fora visto aqui. Um navio americano trouxe agora um carregamento. Nos primeiros dias, ninguém o queria; julgavam os brasileiros que o gelo os queimava, mas hoje já conseguiu grande voga e emprega-se de modo tão agradável quanto útil, neste clima".







Conta Vianna que o emprego do gelo se dava principalmente em sorvetes, vendidos a duzentos réis o copo, na confeitaria Carceler. E pelo que parece, a novidade foi tamanha que até o jovem D. Pedro II foi degustar os gelados.

Após essa introdução (e provavelmente com os carregamentos de gelo acabando cada vez mais rápido), o genovês José Estevão Grondona, que entre suas várias ocupações estava a redação do jornal Sentinela da Liberdade à Beira do Mar da Praia Grande, requeriu, em 1834, permissão para fabricar gelo em solos brasileiros. Grondona, no entanto, teve seu pedido indeferido por referir-se ao caráter "sensual" dos gelados. Motivo pelo qual, como afirma Vianna, o então Procurador da Coroa e da Fazenda Nacional julgou as pretensões do genovês como “imorais e inconstitucionais”.
Em nova petição, através de uma explicação sem “deslizes morais”, obteve a licença para sua fábrica, sem registros, no entanto, se chegou a colocar os planos em prática.


Entre descrições imorais e utilidades diversas, o gelo e seus subprodutos foram se firmando em terras brasileiras, mas só bem mais tarde alcançaram o ápice de seus usos na alimentação, com a popularização das geladeiras e freezers domiciliares.
E você aí, esbanjando gelo...



Por: Raul Altran
De: São Paulo/SP

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