28 de dezembro de 2013

Conexão Canadá: Hora de dar tchau



Como parte do meu programa eu trabalhei seis meses em um restaurante mexicano. Eu já tinha tido experiência de trabalho quando no natal do ano anterior eu enviei meu currículo com a minha personalidade e qualidades (currículo de quem nunca trabalhou) às lojas de roupa dos shoppings em São Paulo em busca de um trabalho temporário para o natal, e assim juntar uma graninha. Fora isso, só quando minha mãe me levava ao trabalho dela e me pedia para organizar umas planilhas, mas o que eu mais fazia era usar o Facebook.
 
Mesmo sabendo que teria que trabalhar uma hora ou outra eu estava tensa, gostava muito de estudar lá e fiquei meio triste de saber que iria terminar o curso em pouco tempo. Mas é certo que o que você aprende nas ruas é diferente do que você aprende na escola. Chegado o momento, a minha primeira preocupação era montar um currículo decente. Fiz algumas pesquisas na internet e escrevi o meu baseado em alguns modelos disponíveis na net. A entrega foi a parte mais difícil, alguns lojistas já faziam perguntas ali mesmo e eu ficava meio sem graça. Entrei em tudo quanto é loja, cafeteria, restaurante e até loja de cama, mesa e banho. Mandei e-mails em um site de busca de empregos para babá e até faxineira. Foi quando eu vi esse restaurante mexicano. 
A gerente que me atendeu era  muito gente boa e fiquei esperançosa. No mesmo dia ela me mandou um e-mail perguntando se eu poderia ir lá para um treinamento e eu aceitei. Nesse dia aprendi a enrolar burritos. Os primeiros cem saíram que parecia um coco enrolado cuspindo guacamole pelas extremidades, mas com o tempo até que peguei o jeito. Trabalhar em um país que não o seu é uma experiência maravilhosa, uma conquista diária. Conseguir entender as pessoas e se relacionar com elas e aprender palavras novas a cada dia que passa me mantinham num estado de felicidade constante. Tiveram momentos difíceis como limpar banheiro entupido, espantar ratos, lavar louças imensas e cortar 50 cebolas por dia, mas eu não me queixava. Por sinal eu adorava ter tido essa oportunidade. 

Quando estava no Canadá, mesmo no começo, eu sentia que precisava aproveitar muito e dar valor a cada momento, cada segundo. Em cada lugar que eu estivesse, o que eu fizesse, eu me sentia com muita sorte e sempre muito feliz. Às vezes eu dormia e acordava feliz por ainda estar lá, é claro que a “homesick” batia, e sentir falta de casa, da família, do namorado, comida e minha casa era natural. Mas eu sabia que aquela viagem seria temporária, então eu focava na parte boa.

No país de origem sinto que as coisas já são meio previsíveis, em feriados e datas festivas você já espera pelo o que está acostumado. Estar fora muda totalmente essa visão. Passar feriados diferentes, aniversário, Páscoa, Halloween, Dia de Ação de Graças,  Natal, Ano Novo, tudo fora de casa, foi bem interessante. Cada momento desse eu sentia mais a cultura canadense e a forma como essas datas eram celebradas lá aumentavam essa sensação. O Halloween foi o melhor de todos! Aqui no Brasil, apesar de importar muito essa cultura norte americana, não tem todo esse costume como tanto os norte-americanos quanto os canadenses tem de realmente celebrar a data. As pessoas saiam às ruas com as fantasias mais loucas possíveis, e não era só criança, gente de todas as idades competindo em criatividade. Aconteciam várias festas também, mas como eu trabalhava no dia acabei só indo em um barzinho com uma fantasia que comprei de última hora, e mesmo assim foi sensacional.  Natal foi interessante também, passei em casa jogando jogos com os outros estudantes. No Ano Novo estava um frio absurdo, mas mesmo assim ainda via meninas de saia, que abusadas! Acabei passando na casa de uns amigos, algumas pessoas entraram no mar com o chamado “ Nado do urso polar”, mas eu passei essa parte por motivos de não tenho tanta coragem assim.


Quando a data de ir embora começou a se aproximar bateu um desespero, estava com muito medo, mas agora era de voltar para casa depois de tanto tempo longe, maldita bipolaridade! Semanas antes de ir embora peguei o ônibus e visitei lugares que eu gostava de ir para olhar mais uma vez, mas sabendo que não voltaria tão cedo. Todas aqueles momentos estariam ligados à mim e guardados de forma que ninguém nunca entenderá, mas que eu sei que me modificou em diversos âmbitos. De praxe tivemos mas uma “farewell party”, festa de despedida. Depois de ter ido em tantas outras para falar tchau à bons amigos, agora era a minha vez. Isso era uma das coisas que me deixava mais triste, conheci pessoas incríveis lá, amizades sinceras que renderam muitas risadas e momentos terapêuticos também, e todos lá sabiam as dificuldades de ver amigos que moram em continentes diferentes. Quem sabe um dia eu volte a vê-los. As recordações são de cartinhas, tickets dos eventos e muitas fotos que ativam a memória para aqueles momentos nostálgicos. Me pergunto se tudo foi real, e mesmo que tenha sido um sonho, a realidade tem que ser enfrentada cedo ou tarde. 

Morar fora é um mix de sensações, é viver e parar para olhar em volta, ter calma e apreciar a vida com mais tranquilidade, porque afinal tudo é novo. É involuntário mas você acaba curtindo mais e sendo mais feliz pelo valor que se dá a esses momentos julgados como únicos. Desde que voltei prático essa  atitude, de olhar ao redor, de apreciar as coisas, mesmo que já as conheça, e de ser grata. Não preciso nem dizer que recomendo à todos conhecer Vancouver que me acolheu tão bem, mas não só lá como qualquer lugar do mundo. Viajar engrandece a alma. Devo muito aos meus pais que me ajudaram para caramba financeiramente, minha família em geral, e é claro ao Ivan que me ajudou e sempre me ajuda aonde quer que eu esteja com muita paciência e amor.


Agradeço pelo espaço para contar um tico da minha experiência morando no Canadá e quero mandar um beijo para minha mãe a para a Xuxa.

Valeu gente!! J














Por: Camila Trama
De: São Paulo - SP
Email: camila.trama@hotmail.com



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