4 de junho de 2013

Não se fazem mais passados como antigamente #13 – Haja LSD!

In The Court of The Crimson King _ King Crimson
Gravadora: Atlantic Records
Lançamento: 10 de Outubro de 1969
Nota: 9.4/10





Lá pelos idos de 1969, quando o planeta estava girando loucamente com a onda hippie –pra alguns mais rápido por causa da guerra no Vietnã,  para outros mais devagar, por causa das drogas mesmo -;quando os Beatles sucumbiam à musa japonesa inspiradora de Luciana Gimenez; quando o Pink Floyd era apenas uma banda de rock mambembe, Elvis Presley era um gordinho  voltando aos palcos em Las Vegas e uns meninos lançaram uma banda humilde de nome Led Zeppelin, uns rapazes britânicos (sempre eles) sentiam que queriam tocar rock, mas não com aquela crueza toda do rock.



Eles eram meio bipolares, por assim dizer: amavam o rock, mas odiavam aquela coisa de “dois acordes e um solinho”; amavam a guitarra, mas achavam que elas podiam render mais. E porque não outros instrumentos, outras texturas? Uma zona organizada era tudo o que o rock precisava pra ir pra frente. É mais ou menos assim que pensava os garotos de Dorset, auto-intitulado “King Crimson”.

***
O King Crimson em 1974 (o terceiro
não é o Renato Russo, mas Robert Fripp).

O que faz as pessoas a ouvir um álbum? Os trabalhos anteriores? A estética? O que as rádios e críticos falam? Um hit-relâmpago no Youtube? Pode ser. Mas nesse caso, todas as convenções caem por terra.
É o álbum de estreia da banda, no fim de 1969, que dá os lucros e o reconhecimento aos membros do KC até hoje, 44 anos depois. Surgindo do nada, eles entraram em um cenário polarizado, ao menos na Inglaterra, tanto pelo rock pop dos Beatles e Rolling Stones como da psicodelia de gente como Jethro Tull e o The Who. Ao invés de entrarem no círculo como meninos comportados e ir se adequando às regras, criaram uma terceira via: o misto, com o rock pesado de guitarras com influências do Jazz e inúmeras batidas. Segundo os estudiosos da área, os líderes da banda, o guitarrista Robert Fripp e o vocalista Greg Lake (O Lake do “Emerson, Lake and Palmer”) queriam que a música representasse o progresso da humanidade, com letras poéticas pensadas. Por isso o nome do recém-criado movimento: rock progressivo.
Se você compra álbuns pela capa, compraria dez discos desse. A ilustração da capa, uma face que grita, é de um quadro pintado por Barry Godber. Dentro, uma lua faz uma pose enigmática. Já sobre o som, há pouco o que dizer. 21st Century Schizoid Man, a abertura do disco, é uma balada lenta, obscura, sobre os males do século XXI (retratadas com alguma realidade, lembremos, ainda em 1969). Eis que, lá pelo meio da música, o rock sério dá lugar a uma estranhíssima Jam de jazz, com trombone, bateria acelerada e tudo que tem direito. Mesmo sendo um hino para quem ama esse tipo de música, ele quase nunca foi tocada ao vivo, e dificilmente conhecida até 2009, quando apareceu como a música final do Guitar Hero 5 - foi por lá que eu conheci a banda. Só quem já jogou sabe o drama que é.
O outro detalhe interessante: o álbum inteiro só tem 5 músicas – comparado que os Beatles chegaram a colocar 17 em um só, é um enxugamento mortal. Mas as canções 3, 4 e 5 são tão diferentes em cada parte que são consideradas várias canções em uma. A incrível Moonchild é dividida em The Dream e The Illusion. E a faixa-título, que fecha o disco, é a minha favorita e que me deixou levemente assustado quando ouvi da primeira vez, tem duas seções: The Return of the Fire Witch e The Dance of the Puppets e cada uma é separada por um solo de flauta, ou uma batida mais calma... mas nada de exaltações. É um disco em grande pare calmo, cerebral e para se ouvir depois de uns drinks, ou um LSD na língua. (Por favor, isso não é apologia. Mas se era assim que eles faziam nos loucos anos 60, quem sou eu...).
Foi assim que eles começaram: acabando. Com toda a divisão que existia no rock entre os “de raiz” e os mais pops, o KC criou espaço para um novo gênero, cultuado até hoje nas rádios de rock mundo afora e com as bandas com fiéis fãs, como o Yes, o Pink Floyd e Genesis. Sem esse álbum estranhíssimo – mas lindo - talvez o heavy metal demoraria um pouco mais pra vir. O rock progressivo seria uma coisa para pubs obscuros. E o rock seria considerado, ainda mais, uma coisa de delinquentes, de jovens transviados.
Agora procure um lugar calmo, aperte o play e feche os olhos. Depois tente contar como foi parar na tal Corte do Rei Escarlate...




Por: Guilherme Mendes
De: Carapicuíba - SP
Email: guilherme@revistafriday.com.br

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