Guilherme Lazaro Mendes, 19 anos, estudante de jornalismo, esteve no "Quarto grande ato contra o aumento das passagens", na última quinta-feira, dia 13/06, em São Paulo. O seu relato é muito extenso, por isso o que virá abaixo são recordes, não editados, do que o Guilherme presenciou. Antemão, pedimos desculpas por não reproduzir o relato por completo.
"Inspire. Respire. Inspire. Respire. Mas não agora, tem gás lacrimogênio na rua.
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(Foto: Erick Ferreira) |
São dezesseis horas, três minutos. O dia é treze de junho de
dois mil e treze. O mundo vai cair em três horas. Meu chefe, na segunda-feira, me criticou que eu dizia muito
“eu acho”, e que jornalistas devem apurar e ter certeza. Então me enfiei no
olho do furacão para saber o que estava acontecendo. A partir de agora vamos
apurar essas três horas.
E quando o relógio do prédio do Mappin conclui 16 horas,
faltando 60 minutos para o horário marcado para o dateline, os (penso que)
treze degraus do Theatro Municipal, local marcado no evento, já estão com
espaços tomados. São jovens, alguns uniformizados, outros à paisana, mas todos
ali concisos, conscientes que todos estão ali pelo “você-sabe-o-que”. Enquanto
eu sento na escadaria, dois jovens atrás de mim mexem num cartaz
laranja-mecânico. A garota abre um guache gigante preto, puxa um pincel e vai
aos poucos.
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Wesley e garota desconhecida. (Foto: Guilherme Lazaro Mendes) |
Os guardas na porta pedem pra ver. Pedem pra ver a bolsa.
Pedem para não sujar o piso recém-reformado. O engraçado é que o próprio guarda
não demonstrava maldade.
E as faixas vão se estendendo no chão. Os guaches
aumentando. As frases de ordem nascem aqui e ali. As pessoas já começam a se
perguntar o que seria aquilo, pois afinal de contas quem não se conecta, neste
caso, está alheio. As lojas das ruas adjacentes agora, às 16h25, já começam a
descer as portas. O que causa estranheza aos passantes: será por causa daquilo
ali? Ah, que se dane, vou ali dar uma olhada.
E quem olhou foi ficando. O movimento, liderado pelo até
pouco tempo escuso “Movimento Passe Livre” perdeu o status de “estudantil
esquerdista e desocupado” com a velocidade de um byte.
Gente que mora no aeroporto considera justo. Gente que mora
em Moema e que estava lá também demonstrava simpatia. Porém o quarto ato agora
conta com um agravante: Não são só as passagens que iram os rebeldes de Zion. É
o fato do protesto não poder existir de maneira pacífica.
E então alguém diz “senta”. E quando todos se sentam, ele
está lá de pé Plínio de Arruda Sampaio, 82 anos, com um megafone na
mão, toma uma onda de aplausos. O velho lobo saiu de casa. Novamente os “baderneiros”
são espertos: Alguém grita, todos repetem “jogral” e assim a comunicação
prevalece entre todos. Seis e tanto agora. E Plínio, em cinco minutos, mais fez
que muito socialista de redes sociais.
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Plínio de Arruda, 82, não ficou no sofá. (Foto: Guilherme Lazaro Mendes) |
As bombas começam a explodir e todo mundo nada faz além de
correr. Transeuntes correm, imprensa corre. Mas motoristas de ônibus apenas bocejam.
Um caminhoneiro que eu interpelei, quando perguntei se estava com medo, deu um
arrastado “naaaaaaaaaaaaada”. Os “baderneiros” agora não poupam esforços: voam
pedras, e eu vi um rojão desses caseiros pipocar na horizontal, como que se
tivesse sido apontado para a cara do policial.
O Mackenzie desce as portas. Quem entrou, entrou, quem não
entrou que se prepare pois a polícia está atirando como que num modo random. Jornalistas
da Folha acertados foram sete. Um deles, que estava com capacete de bicicleta e
uma pose tão ameaçadora quanto a de um velho, cruzou minha frente com uma marca
na cara. Desmoralizado e cabisbaixo, como quem foi humilhado em praça pública.
Eu, Erick, umas dez pessoas, uma senhora quase chorando em
meus braços, dizendo que “só queria ir pra casa” – ela estava na porta do
prédio quando a bomba veio. A todos nós – e a uma cativa audiência nos prédios –
sobrou a missão de apenas encarar aquela rodela prateada, soltando uma incrível
fumaça roxa.
Infelizmente, a minha missão foi abortada. Um dia de
trabalho aliado a esta pequena epopeia já cobra seus preços. Agora é só ir
embora. Mas por onde? Na porta do cemitério da Consolação, a umas quadras da
estação Paulista, vejo bombas, bombas, bombas. Mais bombas. O foco era ali, na
porta da estação, e eu iria ficar onde? Dormir ali? Nem pensar. O segredo é ir
em direção oposta, e ir pra estação República, no centro da cidade.
Por fim, fica aqui o depoimento de um fotógrafo da Abril,
que desde 1965 trabalha e, para meu desgosto, tem carteirinha de jornalista
mesmo sem formação. “Eu tô feliz pois é agora que a casa vai cair. Haddad,
Alckmin, todo mundo junto. Eu apoio”."