Layla and another assorted songs _ Derek and the Dominos
(1970)
Polydor
Nota: 9.7 / 10
Não é preciso ir longe para
entender o porquê de, durante os anos 60, tantos muros em Londres conterem a
pichação “Clapton is god”. O ícone da Fender
Stratocaster até hoje tem uma habilidade literalmente divina, que
lota estádios mesmo cinquenta anos após o início da sua carreira. Alguns deles,
como “Cocaine” e “Bad Love” são referências até hoje pra qualquer um que aprecie um bom rock.
Quase sempre agindo como um músico mambembe, Clapton
tocou em diversos grupos nos anos 60, tais como os Yardbirds, o Blind Faith, o
John Mayall and the Bluesbreakers, além do Cream. Na virada da década,
procurando mais o anonimato de uma banda comum, Eric juntou amigos para um
supergrupo- por mais irônico que isso pareça: o Derek and the dominos (nome criado em cima da hora do primeiro
show, sem nenhuma razão em especial), que só teve uma obra. Obra esta que
poderia ser facilmente exibida em um museu.

As três primeiras faixas são composições do grupo, que ainda não tinha Duane participando. “I looked away” e “Bell Bottom Blues” são mais românticas, enquanto “Keep on Growing” é uma canção elétrica,
com solos mais destacados. Entre os covers,
uma versão ”Nobody knows when you’re down
and out”, que é o famoso blues que canta as tristezas da vida, além de uma
bela improvisação sobre a já espetacular “Little
Wing” de Jimi Hendrix.
Uma das músicas que mostram como a dupla Clapton-Allman
foi produtiva é a faixa 9, “Why does love
got to be so sad”, uma disputa acirrada de solos longos e travados nota a
nota entre os dois. Só quando se ouve pela décima vez consegue-se notar quem é
quem dentro da maestria de notas.
A outra canção é Layla.
Famosa por aquela versão acústica, conhecida nas rádios e
rodas e violão, que Clapton fez em 1992, a faixa-título, em sua versão
original, é explosiva e perfeita. A letra,baseada tanto em uma lenda oriental antiga quanto no amor platônico de Eric com
Patti Harrison, tem uma primeira parte como um blues moderno, novamente
protagonizado pelas disputas entre os guitarristas. Subitamente a música muda
para uma coda em piano em dó maior, feita pelo bateirista Jim Gordon, que torna
a música macia, quase melancólica. Duas faces de uma mesma música, que se
juntam em uma harmonia incontestável.
Pouco após o lançamento do disco, Duane Allman morreu,
ainda com vinte e tantos, vítima de um acidente de moto. Isso, aliado com
brigas e críticas da mídia acusando Clapton de usar a banda para se promover– o
que ele nega veementemente – fizeram com que a Derek and the Dominos fosse
enterrada logo após o fim de sua última faixa, a balada “Thorn tree in the garden”. Mas não há problemas: esse álbum, com a
belíssima capa assinada por Émile Schonberg, não faria feio em qualquer museu
do mundo.
Por: G.L. Mendes
De: Carapicuíba - SP
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