Depois de
tanto trabalhar em vários posts (um) durante todo ano de 2012, peguei umas merecidas e justas férias (só que não), e cá estou
novamente para tratar dos assuntos “ambientalísticos”.
Durante
este período de férias alguns de vocês, assim como eu, devem ter
acompanhado ou ouvido falar, em meio aos especiais de final do ano da
Globo, da exibição da microssérie de 4 capítulos intitulada XINGU. Pois esta série na verdade é um filme, de mesmo nome.
O que a Globo simplesmente fez foi dividi-lo em 4 partes (parabéns,
Globo!).
Acontece
que uma semana antes da exibição dessa estranha versão adaptada,
assisti o filme original, e gostei tanto do que vi, que me inspirei a
contar a história dessas importantes - as vezes desconhecidas -
figuras da nossa cultura e o que eles nos trouxeram de tão
importante e valioso: a consciência da importância de preservarmos
a cultura dos povos indígenas.
Orlando,
Cláudio e Leonardo Villas Bôas, três jovens de 27, 25 e 23 anos
respectivamente, que perderam seus pais ainda muito cedo, com o segundo grau por concluir e trabalhando em importantes empresas da cidade de
São Paulo, sentiam-se vazios, não eram da cidade grande, sonhavam
com o interior e com o “verde”.
Em 1943,
quando souberam da Expedição Roncador-Xingu,
criada pelo então Presidente Getulio Vargas, com o intuito de
explorar os locais inóspitos do Brasil Central a fim de levar a
modernidade para a região, trataram de se inscrever, porém, não
foram aceitos, somente sertanejos estavam sendo recrutados, pois
estes eram vistos como mais fortes e resistentes do que o homem da
cidade. Foi então que tiveram a ideia de se passar por sertanejos
analfabetos. Deixaram a barba crescer e aparaceram maltrapilhos na
Barra do Garça, local onde estava acontecendo o recrutamento.
Prontamente foram aceitos. Conseguiram. Estavam dentro de uma
aventura que perduraria por mais de 42 anos.
Pouco
tempo depois de entrarem para equipe de desbravadores, os irmãos já
haviam conseguido cargos de liderança, eles comandavam as equipes e
lideravam os sertanejos. No decorrer de suas andanças pelo Brasil
selvagem, os irmãos abriram picadas, se confrontaram com animais
selvagens, plantas venenosas, malária, mortes, e o que os mudaria
para sempre, os povos nativos. Enquanto os encontros com povos
indígenas eram feitos, na maioria das vezes, de forma amigável pelos
irmãos, mais de 4 postos militares e 19 áreas de pouso eram criadas
ao redor de toda a região. Durante todo esse período mais de 1500
quilômetros de trilhas foram criadas, dando origem a 43 vilas e
cidades. 5 mil índios foram identificados.
Durante
o contato com os índios, Leonardo, o irmão mais novo, acabou se
envolvendo com uma índia da etnia Kamayurá, esposa do chefe da
Tribo. Este fato, juntamente com discórdias entre os irmãos,
cominaram na saída do irmão caçula da expedição. Leonardo voltou
para cidade juntamente com a índia e uma criança da qual não se
sabe até hoje ser seu filho ou não. Em 1961, aos 43 anos de idade
Leonardo morreu em decorrência de problemas cardíacos.
Neste
mesmo ano, após muitos esforços e a aliança de pessoas influentes do meio político como Marechal Cândido Rondon,
Darci Ribeiro e o Sanitarista Noel Nutels, os irmão promovem a
criação do Parque Nacional do Xingu, este com 27 mil quilômetros
quadrados, até hoje é considerado a reserva indígena mais
importante das Américas. Atualmente no Parque, hoje chamado de
Parque Indígena do Xingu, vivem mais de 6 mil índios, de 10
diferentes línguas em 18 aldeias.
Pelos
feitos realizados em prol do Parque do Xingu, da qual chamavam de
“Sociedade de Nações” os irmãos foram indicados ao “Prêmio
Nehhu da Paz”, ao famoso “Prêmio Nobel da Paz”, entre muitos
outros, inclusive diversas homenagens póstumas.
Em
1967, apoiaram a criação da Fundação Nacional do Índio –
Funai. Em 1978, após 42 anos, a jornada dos irmãos chega ao fim,
eles deixam o Parque do Xingu e vão para São Paulo, onde tornam-se
assessores da Presidência da Funai. Durante este período sempre
estiveram em apoio aos índios, realizando inúmeras conferências e
visitas ao Parque. Neste mesmo período, os dois irmãos escreveram o
livro A Marcha para o Oeste,
relatando em detalhes tudo o que foi vivido para criação do Parque.
No total escreveram mais de 12 livros e inúmeros artigos em jornais
e revistas internacionais, inclusive a National Geographic
Magazine.
Cláudio
Villas Bôas faleceu em 1 de março de 1998 aos 82 anos de idade, em
sua casa, o apartamento que dividia com Orlando, vítima de um Ataque
fulminante no coração. Em 2000, Orlando foi demitido da Funai, o
que gerou grande revolta por parte da população e exigiu inclusive
uma retratação formal por parte do Presidente Fernando Henrique
Cardoso. Já no final de sua vida Orlando começou a escrever a sua
autobiografia, que só foi lançada após seu falecimento. Orlando
Villas Bôas faleceu em 12 de dezembro de 2002, aos 88 anos, por
falência múltipla dos órgãos.
Para
encerrar deixo uma frase escrita por Orlando e que descreve
perfeitamente a gana e vontade desses três irmãos preocupados com a
cultura e a história desse país, atentos que o meio ambiente é a
relação pura entre homem e natureza, e que para demonstrar isso não existe melhor
exemplo do que eles, os índios.
As
histórias e aventuras desses irmãos só puderam se escritas com o
apoio do livro "Arraia de fogo" de José Mauro de
Vasconcelos, que descreve com bastante detalhes as histórias e ao filme Xingu que
serviu de inspiração para que eu pudesse escrever este post.
Abaixo, confira o trailer do filme, vale a pena assistir!
Espero que tenham gostado! Até semana que vem!
Abaixo, confira o trailer do filme, vale a pena assistir!
Espero que tenham gostado! Até semana que vem!
Por: Marcel da Silva
De: Blumenau - Santa Catarina
Email: marceljlsilva@hotmail.com