Há dias não consigo dormir.
Meu tormento começou na quinta-feira da semana retrasada,
em que a vizinha resolveu ativar sua vida sexual. Ou, pelo menos, realizá-la na
sua casa.
Antes que você pense que o recalque me corrói,
deixe-me explicar a situação: a vizinha grita.
Não geme, não sussurra, não estimula.
Grita. Simples assim.
Grita. Simples assim.
Não que eu tenha alguma coisa a ver com isso,
muito menos tenho interesse em ser a Maria do Bairro futriqueira. Pelo contrário,
fico feliz que as pessoas estejam aí, na ativa, sorrindo à toa com a pele
bonita e brilhosa depois de uma trepada. O caso é: dividir a parede com o
escândalo requer paciência, principalmente quando a gritaria admite ser para os
outros e não por prazer. É aí que mora o problema (literalmente).
Depois
de tanto tempo sem dormir e analisando os berros da minha vizinha (pois era só
o que me restava) percebi o que tanto me incomodava, além do óbvio: a vizinha é
falsa.
Falsa.
Falsa com quem ela estava, falsa com ela, falsa comigo, falsa com você e com os
outros vizinhos. Não, mulher não é um bicho ruim que fica julgando tudo e
todos, tirando suas próprias conclusões e cuspindo a sete ventos. É pior. E por
isso eu digo que a vizinha é falsa.
Outro
dia, dormindo na casa de uma amiga, a vizinha dela também começou a ter um
momento de alegria. Os gemidos, ora baixos, ora enfatizados, traduziam todo o
tesão da guria. Conseguíamos mentalizar perfeitamente o que estava acontecendo;
claro, no pensamento e a gosto de cada um. Intercalando em altos suspiros e
gemidos prazerosos, tivemos certeza de que todos ao redor estavam ouvindo,
imaginando o que estava acontecendo e envolvidos demais para reclamar ou achar
ruim. Admito, até com aquela pontinha de "inveja boa". Aquela vizinha
sim, ganhou o meu respeito.
Não
me importa se a pessoa está fingindo ou não, se está bom ou não. Ali, era óbvio
que não estava. Mas porque eu sou obrigada a saber disso? Ela não me dá tesão.
Não me traz desejos, não me dá vontades. Aliás, a única vontade que eu tenho é
a de enfiar minha cabeça na privada e dar descarga até o Pato acabar. Num
primeiro momento, cheguei cogitar a hipótese de ser um estupro. Mas os gritos
eram tão pausados e metódicos que eu desconsiderei a ideia. Não há magia, não há
inspiração. Não há rótulos para nomear o ato. Não é amador, tampouco
profissional. Não é blasé, não é nouveau e me traz saudades da pornochanchada.
Não é. Isso que é. A não ser que seja algum tipo de ritual, não é comportamento
cabível em nada que eu conheça.
Já
me acostumando com o fato de que eu conviveria com a escandalosa, comecei a
pensar no quão triste essa figura devia ser. Aos berros, que não deduzi se era
por conta de uma barata ou por um "bom" sexo oral, pensei na outra
parte do casal (se é que era um casal). Como a criatura me submete a isso? Será
que gosta de escândalo? Ou pior, será que acredita nisso?
***
Há
alguns dias, tive uma discussão com um amigo sobre fingir orgasmo. Eu disse que
essa era uma prática muito comum entre as mulheres (a verdade dói, eu sei). A
discussão tomou um rumo tão extenso que, entre a culpa ser da sociedade
patriarcal e da fisiologia humana, nada foi resolvido: ele achando um absurdo e
eu afirmando que era a coisa mais normal do mundo.
Salvo
exceções.
Ainda
estou tentando entender em que patamar a vizinha se encontra. Aquilo, apesar de
ser fingimento, está longe de o ser. Tão escrachado e absurdo que não condiz,
sabe? Mas, se for, é a pior performance que eu já ouvi, o que me deu muita
pena. Pena porque todo mundo tem o direito de ter uma gostosa noite de sexo,
pena porque ela não me serve de musa inspiradora (oi?) e, mais ainda, todos têm
o direito de dizer o que gosta e o que não gosta. Acho que aí cabe o
patriarcalismo argumentado pelo meu amigo. Quando termina o ato sexual? Quando
o homem gozar, muitos irão responder, certo? Errado. O sexo não foi feito para
satisfazer apenas o homem, embora muitos e MUITAS pensem assim. Isso inibe o
tato, reprime os desejos sexuais femininos e faz da mulher um objeto, como se fosse
algo normal. Mulheres fingem, TAMBÉM, por estarem acostumadas a esse tipo de
conformismo sexual. E a falta de diálogo e esclarecimento resulta no berreiro
da vizinha insana, que resulta na minha falta de descanso, que resulta nas
olheiras e no look zumbi do dia seguinte. Olha a bola de neve, gente, pelo
amor!
Jeitosa:
coisa que a vizinha não é.
Fonte:
estranhoencontro.blogspot
O
caso é que, fingindo ou não, não importa. Nada tira o direito das pessoas
dormirem, cazzo! Acho que sexo não tem limites, realmente, mas quando você
reúne uma pequena multidão às 3h da manhã na frente da sua casa por conta do
seu escândalo é ignorar totalmente que existe o bom senso! (Lugares públicos
não entram nesse senso).
Ps.:
Caso você tenha recebido um bilhete embaixo da sua porta escrito "Favor
trepar de verdade ou em silêncio", saiba que fui eu.
Por: Bruna Oliveira
De: Campinas - SP
Email: bruna.okubo@gmail.com
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