17 de outubro de 2013

[+18] A vizinha, a insônia e a não pornochanchada

Há dias não consigo dormir.

Meu tormento começou na quinta-feira da semana retrasada, em que a vizinha resolveu ativar sua vida sexual. Ou, pelo menos, realizá-la na sua casa.
Antes que você pense que o recalque me corrói, deixe-me explicar a situação: a vizinha grita. 


Não geme, não sussurra, não estimula.
Grita. Simples assim.


Não que eu tenha alguma coisa a ver com isso, muito menos tenho interesse em ser a Maria do Bairro futriqueira. Pelo contrário, fico feliz que as pessoas estejam aí, na ativa, sorrindo à toa com a pele bonita e brilhosa depois de uma trepada. O caso é: dividir a parede com o escândalo requer paciência, principalmente quando a gritaria admite ser para os outros e não por prazer. É aí que mora o problema (literalmente).

Depois de tanto tempo sem dormir e analisando os berros da minha vizinha (pois era só o que me restava) percebi o que tanto me incomodava, além do óbvio: a vizinha é falsa.

Falsa. Falsa com quem ela estava, falsa com ela, falsa comigo, falsa com você e com os outros vizinhos. Não, mulher não é um bicho ruim que fica julgando tudo e todos, tirando suas próprias conclusões e cuspindo a sete ventos. É pior. E por isso eu digo que a vizinha é falsa.
Outro dia, dormindo na casa de uma amiga, a vizinha dela também começou a ter um momento de alegria. Os gemidos, ora baixos, ora enfatizados, traduziam todo o tesão da guria. Conseguíamos mentalizar perfeitamente o que estava acontecendo; claro, no pensamento e a gosto de cada um. Intercalando em altos suspiros e gemidos prazerosos, tivemos certeza de que todos ao redor estavam ouvindo, imaginando o que estava acontecendo e envolvidos demais para reclamar ou achar ruim. Admito, até com aquela pontinha de "inveja boa". Aquela vizinha sim, ganhou o meu respeito.

Não me importa se a pessoa está fingindo ou não, se está bom ou não. Ali, era óbvio que não estava. Mas porque eu sou obrigada a saber disso? Ela não me dá tesão. Não me traz desejos, não me dá vontades. Aliás, a única vontade que eu tenho é a de enfiar minha cabeça na privada e dar descarga até o Pato acabar. Num primeiro momento, cheguei cogitar a hipótese de ser um estupro. Mas os gritos eram tão pausados e metódicos que eu desconsiderei a ideia. Não há magia, não há inspiração. Não há rótulos para nomear o ato. Não é amador, tampouco profissional. Não é blasé, não é nouveau e me traz saudades da pornochanchada. Não é. Isso que é. A não ser que seja algum tipo de ritual, não é comportamento cabível em nada que eu conheça.

Já me acostumando com o fato de que eu conviveria com a escandalosa, comecei a pensar no quão triste essa figura devia ser. Aos berros, que não deduzi se era por conta de uma barata ou por um "bom" sexo oral, pensei na outra parte do casal (se é que era um casal). Como a criatura me submete a isso? Será que gosta de escândalo? Ou pior, será que acredita nisso?

***

Há alguns dias, tive uma discussão com um amigo sobre fingir orgasmo. Eu disse que essa era uma prática muito comum entre as mulheres (a verdade dói, eu sei). A discussão tomou um rumo tão extenso que, entre a culpa ser da sociedade patriarcal e da fisiologia humana, nada foi resolvido: ele achando um absurdo e eu afirmando que era a coisa mais normal do mundo.
Salvo exceções.

Ainda estou tentando entender em que patamar a vizinha se encontra. Aquilo, apesar de ser fingimento, está longe de o ser. Tão escrachado e absurdo que não condiz, sabe? Mas, se for, é a pior performance que eu já ouvi, o que me deu muita pena. Pena porque todo mundo tem o direito de ter uma gostosa noite de sexo, pena porque ela não me serve de musa inspiradora (oi?) e, mais ainda, todos têm o direito de dizer o que gosta e o que não gosta. Acho que aí cabe o patriarcalismo argumentado pelo meu amigo. Quando termina o ato sexual? Quando o homem gozar, muitos irão responder, certo? Errado. O sexo não foi feito para satisfazer apenas o homem, embora muitos e MUITAS pensem assim. Isso inibe o tato, reprime os desejos sexuais femininos e faz da mulher um objeto, como se fosse algo normal. Mulheres fingem, TAMBÉM, por estarem acostumadas a esse tipo de conformismo sexual. E a falta de diálogo e esclarecimento resulta no berreiro da vizinha insana, que resulta na minha falta de descanso, que resulta nas olheiras e no look zumbi do dia seguinte. Olha a bola de neve, gente, pelo amor!


 

Jeitosa: coisa que a vizinha não é. 
Fonte: estranhoencontro.blogspot


O caso é que, fingindo ou não, não importa. Nada tira o direito das pessoas dormirem, cazzo! Acho que sexo não tem limites, realmente, mas quando você reúne uma pequena multidão às 3h da manhã na frente da sua casa por conta do seu escândalo é ignorar totalmente que existe o bom senso! (Lugares públicos não entram nesse senso).

Ps.: Caso você tenha recebido um bilhete embaixo da sua porta escrito "Favor trepar de verdade ou em silêncio", saiba que fui eu.




Por: Bruna Oliveira
De: Campinas - SP
Email: bruna.okubo@gmail.com




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