Algumas
bandas de rock podem ser comparadas à palitos de fósforo. Vejam só vocês o
Rolling Stones, 51 anos e meio queimando. Aerosmith é um fósforo vermelhinho
americano, queimando à base de cocaína e narcóticos desde 1969. Teve banda de
rock que queimava feito louca mas quando o vocalista morreu ela apagou – a esse
caso pode –se falar do Doors, do Queen ou mesmo do Nirvana.
Agora,
convenhamos: nenhum desses “fósforos” queimou tão rápido e tão bem quanto o The
Police. Em cinco anos a banda nasce, morreu e deixou uma legião de fãs com o
babador no queixo.
Deve
ter sido dificílimo o ano de 1978. Imagina você o petróleo ainda explodindo de
preço. Imagina a ditadura na América Latina toda. Pior de tudo: IMAGINA O PUNK
ROCK! Numa época onde Johnny Rotten e
banda sacudiam o mundo com uma variante engraçada de anarquismo (que incluía um
empresário capitalista mão-de-ferro, Malcolm McLaren, por trás), numa época
onde se tocar músicas gritas e rápidas com dois ou três acordes era a inovação
do século, nos subúrbios de Londres pequenas bandas ainda mostravam o poder de
uma composição mais bonita.
Entre elas, uma banda com a formação mais variada possível: o baterista, Stewart Copeland, era um americano filho de um ex-espião da CIA e uma ex-espiã inglesa (daí provavelmente o nome da banda). O guitarrista, Andy Summers, oito anos mais velho que todo mundo na banda, já tinha tocado algum tempo com Eric Burdon &The Animals. E o baixista, um loiro de apelido Sting, era filho de um leiteiro e uma cabeleireira. A cara da banda de garagem – e a alma também, já que o primeiro single da banda nasceu com um orçamento de 150 libras.

Entre elas, uma banda com a formação mais variada possível: o baterista, Stewart Copeland, era um americano filho de um ex-espião da CIA e uma ex-espiã inglesa (daí provavelmente o nome da banda). O guitarrista, Andy Summers, oito anos mais velho que todo mundo na banda, já tinha tocado algum tempo com Eric Burdon &The Animals. E o baixista, um loiro de apelido Sting, era filho de um leiteiro e uma cabeleireira. A cara da banda de garagem – e a alma também, já que o primeiro single da banda nasceu com um orçamento de 150 libras.

Gravadora:
A&M Records
Lançamento: 2 de
novembro de 1978
Nota: 9,5 / 10
Após assinar um contrato
com a gravadora A&M e se livrar do guitarrista Henry Padovani, a banda
seguiu para um pequeno estúdio nos arredoes de Londres e concebeu o primeiro
álbum, o Outlandos D’Amour. As
canções são cruas, com muito pouco tratamento – marca das novas bandas de rock da época- mas extremamente
variadas. Há o rock descompromissado da elegante abertura Next to You; ou o reggae
de Can’t Stand Losing You e da final So Lonely. O álbum não fez sucesso na época do lançamento (meses depois
ele engararia nas paradas americana e britânica), mas o que seria do rock sem o
toque de veludo de Roxanne, que
questiona um tema tão pesado numa melodia tão mas tão mas tãããããããããããão linda?


Gravadora: A&M Records
Lançamento: 5 de outubro de 1979
Nota: 8,5 / 10
A banda
seguiu a carreira baseada em uma fusão de pop, rock e reggae. E também seguiu
com a tradição de nomes difíceis nos álbuns. O segundo, ironicamente cunhado Regatta de Blanc (ou “reggae de branco”,
como eles eram chamados), tem uma produção melhor, uma direção melhor. A banda
perde o medo que normalmente existe na produção do primeiro álbum e busca umas
texturas aqui e ali, alguma coisa mais caprichada. E, pela primeira vez, a
banda do loiro dos baixos alcançou o primeiro lugar nas paradas.
O punk definhava pelos cantos,
dando espaço aos novos ritmos mais soturnos como o gótico e o pop da Joy
Division (a.k.a. “melhor banda de tumblr rock”). E, estranhamente, o rock voltava
a tomar um rumo ascendente – Bruce Springsteen virava o chefe na América e o
Queen se consolidava na Europa. E o Police, transitando entre esses dois
continentes, com uma canção sobre solidão, sobre alguém ler sua história –
enfim, sobre uma mensagem na garrafa. O sucesso foi imediato na Inglaterra
(número 1) e Austrália. Outra canção de destaque no álbum é a mezzo britânica mezzo jamaicana “Walking on the Moon”.
O terceiro filho, Zenyattà Mondatta, é o último a vir com
nomes sem sentido. Mas a qualidade musical colocou o Police entre as maiores do
seu tempo –e a deixa lá até hoje. O som
começa a ter mais cara de rock e menos do ritmo jamaicano que permeava os
primeiros trabalhos. Ícones musicais dos anos 80 como Don’t Stand So Close To Me (cujo refrão viraria a introdução de outro hino
dos anos 80, Money for Nothing, dos
Dire Straits) e a chiclete De Do DoDo, De Da Da Da tornaram o Zenyattà
um sucesso de crítica e venda (2x platina nos EUA), quando as canções de rock
tendiama ser mais curtas, de tiro rápido, sem os solos e jams de bandas dos anos 70 (Nesse mesmo ano, o Yes se afundava numa crise existencial com
um álbum, de nome Drama, que parecia
vir do passado. E a faixa de abertura tinha dez minutos e meio. O álbum seguinte, já com a cara dos anos 80, estourou em vendas graças a músicas com riffs chicletes como essa).
E o fósforo continua a
queimar. Forte, com uma chama altíssima.
Então a banda vai para o
quarto trabalho em quarto anos. Entre produção, lançamento e turnês, deve ter
havido pouquíssimo tempo de férias. Se você já se cansa de encontrar alguns
companheiros de trabalho de segunda a sexta, imagina competir em egos – e
alguns beijos de fãs – com dois amigos seus por anos a fio? Óbvio, essa bomba
ia estourar – mas não agora.


Gravadora: A&M Records
Lançamento: 2 de outubro de 1981
Nota: 7 / 10
Lançando o quarto álbum no aniversário de três ano do primeiro, agora o The Police era uma banda completamente dentro dos anos 80. Tanto que a capa do Ghost in the Machine era um exemplo máximo da tecnologia da época: três displays de números com uma breve caricatura dos membros da banda – Sting é o do meio, com o cabelo espetado. Pela primeira vez a banda usa o sintetizador de maneira mais pesada, rompendo os laços com o reggae quase definitivamente.
O que não significa que seja
ruim. O grande single do álbum, Every Little thing she does is magic, é
bastante ritmada, com um grande desempenho de Stewart Copeland e, devido ao uso
demasiado de tecladinhos, quase não se ouve a guitarra de Andy Summers. Por
isso que Ghost foi o primeiro álbum a
contar com os constantes desentendimentos entre o trio.
Mesmo assim, como um fósforo
desses persistentes, eles seguiram. O ano de 1982 foi o primeiro a não contar
com álbuns da banda, mas em 1983 a banda chegou com uma caixa com tantos
sucessos que pagava 1982 com juros. Parecia que, novamente, Sting, Copeland e
Summers entraram em sincronia novamente.
Usando o teclado como um
quarto membro da banda, o grupo voou em novas texturas, ritmos mais acelerados
e letras –ainda- mais voltadas pra rádios. Synchronicity
era tão meloso que todos nós até hoje não tiramos da cabeça a letra de Every Breath You Take, primeiro single
do disco. Se você, como eu, é um stalker,
pode até se identificar com a letra.
Outro elemento que dá uma
graça extra ao disco é o xilofone tocado por Copeland. Canções como a clássica King of Pain e a faixa-título, dividida
em duas partes, geraram clipes, três Grammy
e um mar de dinheiro tão grande que não parou de jorrar até hoje.
Mas, durante a turnê, a
ferida causada pelos desentendimentos entre os três não sarava. E crescia,
inflamava. E chegou ao ponto crítico: após o show de encerramento da turnê do
último trabalho, em março de 1984, a banda se dissolveu por um tempo, buscando
projetos solos. Depois do concerto final em Melbourne, Austrália, eles nunca
mais entrariam em um estúdio novamente.
*
A banda rachou-se e cada um
foi pro seu lado, cada um fazendo sua carreira solo decolar. Sting foi aturar
em filmes e seguir cantando musiquinhas melosas – (If you love somebody) Set Them Free é uma delas;
Copeland gravou trilhas sonoras para filmes e inclusive chegou a lançar
trabalhos com nomes falsos. Andy Summers gravou o estranhíssimo I Advanced Masked com outra lenda da guitarra: Robert Fripp, líder
dos King Crimson.
E assim o fósforo se apagou.
Em 5 anos, queimou como poucos. As tentativas de reunião foram aos montes: em
1986 eles se juntaram para um show da Anistia Internacional e inclusive
tentando gravar algumas músicas novas. Mas o baterista sofreu um acidente
jogando polo e o máximo que conseguiram foi regravar a canção Don’t Stand so Close to Me, do Zenyattà.
Em 2003 a banda foi indicada ao Hall da Fama do Rock and Roll, e tocou apenas
três músicas (aqui a sexy versão de Roxanne). Em 2007 a surpresa: a banda resolve sair em turnê – inclusive num histórico show pra mais de 75 mil pessoas no Maracanã.
Aí todos os fãs deram os
braços, fecharam os olhos e falara: Agora vai.
Mas depois do fim da turnê,
num show em Nova York numa quinta-feira de Agosto de 2008, Stewart Copeland foi
seco: a banda nunca mais subirá aos palcos novamente.1
Mas, pelos 5 anos de carreira, 25 anos de legado e pelos cinco minutos dessa música que nunca vai sair de nossas cabeças, talvez tenha valido a pena. Muito.
Mas, pelos 5 anos de carreira, 25 anos de legado e pelos cinco minutos dessa música que nunca vai sair de nossas cabeças, talvez tenha valido a pena. Muito.
Por: Guilherme Mendes
De: Carapicuíba - SP
Email:g.lazaro@outlook.com