26 de agosto de 2013

Crônicaria de bolso #2 - A fugitiva do Planalto

Os ares do Palácio do Planalto estavam pesados, a temperatura de Brasília nada ajudava, o ar era seco e quente.
A 'Presidenta' (como gosta de ser chamada) estava no auge do seu estresse, não aguentava mais toda aquela pressão em suas costas, os assuntos governamentais estouravam em sua cabeça, todos de uma só vez: Copa do Mundo 2014, manifestações populares, corrupção conjunta de seu partido, decisões polêmicas do Judiciário, a responsabilidade de ser a primeira Presidente mulher do país... A lista era grande, quase sem fim.
Ela precisava, nem que por apenas um minuto, respirar um ar limpo, como aquele de sua juventude revolucionária, precisava sentir a liberdade novamente. Presa no Gabinete Presidencial andava de um lado para o outro, aflita, sonhando com o dia em que tiraria férias de todo aquele mundo político sufocante em que se encontrava.
Decidiu que era hora de tirar a mente da panela quente, sentou no sofá e colocou seu filme preferido para assistir 'O diário de uma motocicleta'. A Presidenta achava que o Gael García trazia uma grande credibilidade ao Che Guevara quando o interpretou, um dos seus grandes ídolos da história.
E foi no momento em que se divertia assistindo ao filme, que se lembrou de uma conversa que teve alguns dias atrás, com o secretário-executivo do Ministério da Previdência, onde revelou sua vontade de andar de moto Brasília afora, terminando a conversa com a felicidade de subir na Harley-Davidson do secretário e tirar umas fotos posando como motoqueira.
Esse sangue aventureiro nunca tinha saído de dentro dela e seu sonho de andar livre, leve e solta em uma motocicleta nunca tinha se concretizado, apesar de sempre ter cultivado essa vontade dentro de si.
Resolveu que toda aquela loucura de viver um sonho deveria acabar naquele momento, era preciso dar um basta de uma vez por todas. Afinal, em sua cabeça, viver de sonhos sempre foi viver em vão, mas viver realizando sonhos era o verdadeiro significado da felicidade.
Como um simples estalo, uma ideia veio a sua cabeça. Imediatamente, pegou o telefone e ligou para o seu chefe de segurança e pediu que ele fosse comprar uma Coca-Cola para refrescá-la naquele dia quente. Quando viu que seu caminho estava livre e desimpedido, certificou-se de que o secretário continuava em reunião e correu até a sala dele para pegar a chaves de sua bela moto emprestada por alguns minutinhos.
Foi andando pelo Palácio com muita cautela, não queria que ninguém a visse saindo dela lá, pois sabia que tentariam impedi-la. Quando chegou ao estacionamento, foi de encontro ao manobrista dos carros e com seu sorriso mais simpático, interpelou-o:
-        Ah querido, acabei de me dar conta de que esqueci minha bolsa em minha sala e estou atrasadíssima para uma reunião. Será que você faria a gentileza de buscá-la para mim?
Prontamente, o rapaz se levantou e tomou rumo até a sala da Presidenta.
Quando teve certeza de que não seria mais interrompida por ninguém, ela se sentou na moto do secretário e rapidamente deu a partida, colocou o capacete e saiu cantando pneu, rumo às ruas de Brasília.
Sua felicidade não podia ser maior. Em sua cabeça a trilha sonora que tocava era 'Highway to hell' do AC/CD. A Presidenta era puro êxtase, sentiu como se tivesse seus 20 anos novamente.
Mas para a sua infelicidade, os tempos eram outros, e em plena época de Lei Seca, ela se depara com uma blitz inesperada. Antes que pudesse pensar no que fazer naquele momento, o policial fez sinal para que ela encostasse a moto.
-        Boa tarde, senhora. Habilitação e documentos do veículo, por gentileza.
A Presidenta tirou o capacete, e abriu um grande sorriso para o policial. - Boa tarde, querido. Sabe o que acontece, esta moto não é minha, estou apenas dando uma voltinha para aliviar a tensão lá do Palácio...
Antes mesmo que ela pudesse terminar de se explicar, o policial olhou para ela por cima dos óculos e a interrompeu: - A senhora está me dizendo que está dirigindo um veículo de outra pessoa e não possui a documentação dele? Bom, pelo menos, mostre sua habilitação...
-        Acho que você não entendeu... - seu sorriso foi ficando cada vez mais amarelo – não possuo carteira de habilitação, estou apenas dando uma voltinha, mas vamos fazer o seguinte, desço aqui, ligo para o meu segurança me buscar e fica tudo certo, tudo bem?
Quando tirava seu telefone do bolso para ligar para o chefe de segurança do Palácio, foi imediatamente interrompida pelo policial.
-        Senhora, infelizmente, não posso autorizar essa sua atividade, a senhora cometeu duas infrações de trânsito, dirigiu desabilitada e sem a documentação do veículo, tenho que apreender a moto e registrar uma ocorrência.
Nesse momento, toda a cor que suas bochechas tinham ganhado ao sentir o vento das ruas deram lugar a uma súbita palidez. - Mas como assim? Sou a Presidenta deste país, não posso tomar multa...
-        Senhora, me desculpe, mas regras são regras. - Retirando o bloco de anotações do bolso, continuou. - Então, me esclareça uma coisa, 'Rousseff', se escreve com dois f's ao final?

Por: Mariana Cardoso Magalhães
De: Belo Horizonte - MG
Email: m.cardosomagalhaes@gmail.com

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