20 de agosto de 2013

Não se fazem mais passados como antigamente #18 – ¡Arriba!




Supernatural_Santana
Gravadora: Arista
Lançamento: 15 de junho de 1999
Nota: 8/10






                Staples Center, Los Angeles, 23 de fevereiro de 2000. O vencedor do Grammy de melhor álbum sobe, pé ante pé, os degraus do palco, sob uma calorosa salva de palmas. Para os tantos milhares que fazem isso – bater palmas – nem há cara de surpresa. Carlos Santana subia ao palco pela oitava vez naquela noite – mal vai ter onde enfiar tantas estátuas em forma de gramofone. A maioria se lembrava de 1982, quando Michael Jackson subiu, também oito vezes, com seu modesto trabalho de nome Thriller.

                Talvez só uma pessoa ali estivesse surpresa: o próprio Carlos.


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Em 1969. ¡Ay ay ay! (Reprodução)

                Com mais de 30 anos de carreira, Santana sempre foi um dos mais expressivos músicos de sua geração – mas nunca tinha saído da marginalidade da imprensa. Isso devido a uma série quase infinita de motivos:

                Desde 1969, com o lançamento do seu primeiro álbum homônimo, Carlos e a sua banda, a nada egocêntrica Santana Blues Band, os críticos batem palma. Eles elogiam o tom puríssimo e único de sua guitarra – talvez a mais fácil de ser reconhecida de longe. Já tocou blues de raiz e jazz, usou todas as drogas conhecidas e adotou um nome dado por um guru indiano (nos anos 70 ele era "Devadip" Carlos Santana). Mesmo assim ele nunca recebeu o tratamento devido de um rockstar. Nunca tocou em estádios ou foi estrela dos festivais em que compareceu (mas diz a lenda que em Woodstock ele cheirou tanto que achou que sua guitarra havia se transformado numa cobra e teria deixado ela num serpentário quando voltou pra casa).

                Filho de um mariachiaqueles músicos tradicionais mexicanos – Carlos promoveu, em 16 álbuns de estúdio e outros tantos ao vivo, uma raríssima mistura entre os ritmos latinos e africanos com o blues e jazz que um bom solo de guitarra pode dar. Exemplos são suas canções mais famosas, a adaptação de Black Magic Woman (Guitar Hero mandou lembranças) e Samba pa ti.

                Em 1999, depois de sete anos sem gravar nada, Santana estreou contrato com a nova gravadora, a americana Arista Records. Trabalhando com um grupo de renomados produtores – entre eles o fundador da empresa, Clive Davis e o haitiano Wyclef Jean – Carlos renovou seu jeito de tocar, trocando as longas jams e solos por um rock mais comercial e vendável – ainda que não menos latino.

                Outra aposta foi aquela tática conhecida como “chama os muleke”: quase todas as 14 faixas do disco contém algum convidado especial. The Calling tem o arroz-de-festa Eric Clapton. Lauryn Hill empresta sua voz em Do You Like The Way e o rapper Everlast faz um dueto em Put your lights on. Os conterrâneos do Maná deram vida a Corazón Espinado (mais lembrado num daqueles covers horríveis do Leonardo) e Rob Thomas, vocalista do Matchbox Twenty, ajudou o guitarrista a marcar os anos 90 com sua canção mais conhecida – e cantada, e dançada...

                Com uma forte campanha, clipes nas paradas da MTV e solos de guitarra lindos, mas curtinhos, Supernatural mostrou um novo conceito do músico. A música latina, graças à grande comunidade instalada nos EUA, finalmente caiu no gosto dos países anglo-saxões (caso do próprio EUA, do Canadá e nações europeias). Para que isso acontecesse, houve um preço a ser pago: quase tudo é cantado em inglês e o som lembra mais um pop do que a velha salsa dançante.

                Desde o seu lançamento, o disco estourou em todas as paradas ao redor do globo. Em 35 anos de carreira, um Grammy por Blues for Salvador e, em uma noite, oito. Em mais de 10 países ele chegou ao topo das paradas. Discos de platina? Apenas 56 (e um de diamante no Canadá).  Além das 30 milhões de cópias vendidas, ficaram canções que até hoje são símbolos da América latina – olha, se você nunca dançou Corazon Espinado ou Smooth...

Santana e Rob Thomas em Smooth. Dancei muito inclusive. (Reprodução:Youtube)

*

                Muitas noites de farra – como a noite da festa pós-Grammy – ocorreram para o mexicano desde então. O sucesso veio, o reconhecimento veio, mas a obra-prima... bem, ficou difícil equiparar um desses. Alguns álbuns dele seguiram uma regularidade pelos anos 2000, caso do Shaman (2x platina) e do seu mais recente disco, Shape Shifter, lançado ano passado. Hoje ele vive como Elvis viveu seus últimos dias: fazendo shows em cassinos de Las Vegas (próximo show dia 11 do mês que vem). Com 66 anos, ele entra na nossa categoria simpática: a dos vovôs do rock.


 (P.S.: setembro vêm aí. E o mês dos shows promete aqui na coluna. Aguardem!) 

Por: Guilherme Mendes
De: Carapicuíba - SP
Email: guilherme@revistafriday.com

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